Título da redação:

Solução: Ouvir.

Proposta: Trotes universitários

Redação enviada em 11/10/2015

Em teoria, o trote é um rito de iniciação da vida acadêmica. A sua origem remonta a Idade Média, e desde então implica em atos de zombaria e imposição de tarefas constrangedoras aos chamados calouros em favor de uma suposta aceitação social. O trote deveria ser sinônimo de confraternização. Contudo, demonstrasse antes uma prova de hierarquias estudantis pré-estabelecidas. E opressão é violência. Logo, é crime. O trote é um reflexo da sociedade. No seu desenrolar evidenciasse preconceitos e desigualdades que estão incutidas no plano social. Comprovação dada pelos pejorativos atribuídos aos “iniciados” em função da condição financeira, sexualidade, opção religiosa, aparência física, entre outros aspectos. É uma luta de classes cuja representação se dá pelo veterano (burguês) que é definido melhor e mais forte do que o recém-chegado (proletário). Razão primeira da lógica humilhante do rito. “Quem cala, consente”. Esse é o mantra das Universidades que delineiam o campus numa “arena” na qual apenas a morte é o limite. Entende-se que a relação de submissão entre calouros e veteranos inibe o protesto aos excessos sofridos. É sinônimo de impunidade. Em consequência faz-se nota de diversos abusos que se dão dentro do campus. Não havendo quem fale, não há o que se fazer a respeito. A exemplo tem-se o ano de 1999, e Edison Tsung, calouro de medicina da USP. Forçado a ingerir bebidas alcoólicas, foi encontrado morto um dia após na piscina onde ocorrera a festa. Um inquérito foi aberto para investigar os culpados. Ninguém foi indiciado. Ainda que o constrangimento seja a regra em se tratando de trotes, existem ressalvas louváveis. Tal qual é o trote solidário. Instituições de Ensino Superior como a Universidade CEUMA realizam-no. Nele, o calouro é convidado a realização de uma tarefa a favor da comunidade (doação dos cabelos, alimentos, brinquedos, roupas, etc.). Nada de lama, poça de fezes ou drogas. O resultado é comunhão. Em razão disso vê-se que sim, é possível divertir sem agredir. Afinal, a formação universitária, em tese, compreende profissionais e não marginais. É essencial criminalizar a arbitrariedade do trote violento. O Ministério da Justiça tem de trabalhar a favor dos ultrajados nessas celebrações. Uma recomendação legal é a inclusão do trote como crime de tortura sob os parâmetros do Código Penal Brasileiro. Já a ferramenta funcional é a criação de ouvidorias vinculadas à Secretaria do Estado e Defesa Da Cidadania para cuidar dos estudantes que enfrentaram ou enfrentam qualquer gênero de transtorno em todas as federações do Brasil no âmbito acadêmico. O nome é assistência, e a solução é ouvir. A negligência habita no silêncio dos que sofrem, e no grito dos que afligem. Havendo a quem falar, haverá o que se fazer.