Conhecidos em Portugal como "praxes", os trotes universitários foram trazidos para o Brasil tão logo as primeiras faculdades aqui se instalaram. Surgidos como forma de confraternização e acolhida dos que são aprovados no vestibular, tais eventos, entretanto, acabaram, ao longo dos anos, perdendo seu propósito inicial. Comum tornou-se a veiculação de notícias a respeito de práticas violentas nos trotes de todo o Brasil. Veteranos, se valendo de seu maior conhecimento da instituição e do curso o qual frequentam, passaram a impor aos calouros práticas humilhantes como forma de representar uma superioridade que julgam ali ter. Dessa forma, calouros passaram, geralmente contra sua vontade, a realizar atos como o pedágio - um recolhimento de dinheiro pelas ruas - e até mesmo banhos de tinta e carne, como é comum em algumas instituições. Recentemente também, fez-se pública a prática de crimes em tais eventos. Estudantes de algumas universidades revelaram não raro ser cometido o abuso sexual de novatos. Percebe-se, assim, o uso de uma festividade de acolhida de novos estudantes como oportunidade para indivíduos sem uma correta educação familiar e auto controle praticarem atos que seriam mais duramente reprimidos em outros ambientes. Nota-se , ademais, o medo que geralmente impede calouros de denunciarem esses abusos. Fruto da falta de um setor específico nas universidades para tratar do assunto e do receio de que a convivência com outros veteranos seja prejudicada, novatos, muitas vezes, se calam favorecendo ainda mais o opressor. Observa-se, portanto, a necessidade de uma mudança da postura das universidades para com os trotes nelas realizados. É essencial que se criem normas que regulamentem as atividades e que haja um bom propósito para sua realização - a exemplo da UFRJ que adotou o trote solidário com a arrecadação de roupas e alimentos como forma de integração entre os estudantes. Também deve-se deixar claro, aos novatos, que práticas abusivas devem ser denunciadas e, para isso, é viável que se crie um setor específico para a correta punição dos infratores.