Em 2003, o Estatuto do Desarmamento regulamentou a compra e posse de arma no Brasil. Atualmente, com a crescente crise de segurança, surge a ideia de que a revogação do estatuto seria uma alternativa para aumentar a segurança do cidadão. No entanto, na prática, essa situação não solucionaria o problema, visto que há uma falta de preparo tanto civil quanto estatal. Convém ressaltar, a princípio, que colocar a responsabilidade da segurança nas mãos do cidadão é um equívoco. Segundo Jürgen Habermas, filósofo alemão, o agir comunicativo 一 forma de deliberar em conjunto, mediante troca de argumentos e razões 一 está sendo desvalorizada na contemporaneidade. Nessa lógica, simples discussões familiares, nos bares ou trânsitos são transformadas em situação de risco, uma vez que a falta de diálogo permite ao indivíduo agir de acordo com suas convicções. Além disso, segundo pesquisa da Secretaria da Segurança de São Paulo, pessoas que andam armadas têm 56% mais chance de serem mortas por ladrões, ou seja, portar uma arma não significa, necessariamente, estar seguro. É importante destacar, ainda, que a insegurança não é causada somente por crimes isolados, mas por uma estrutura que encontra-se defasada. Um exemplo disso é o precário investimento estatal nas sedes administrativas das polícias civil e militar, que proporciona entraves no treinamento dos futuros profissionais. Em outubro de 2015, um sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro confessou que confundiu um macaco hidráulico com uma arma e disparou contra dois jovens que estavam em uma moto. Casos como esse podem ser intensificados com a liberação do porte de armas, dado que os próprios profissionais não estão preparados para lidar com essa situação. Fica claro, portanto, que a liberação do porte de arma é um recurso nocivo à sociedade. É necessário que o Estado, através do Ministério da Segurança Pública, a fim de melhorar a organização das polícias, destine verbas para serem aplicadas na estrutura administrativa e formacional. Ademais, é mister que o Governo Federal, junto à mídia, promova campanhas que apresentem índices de morte por arma de fogo em situações banais, com o intuito promover uma reflexão nacional. Assim, a população se sentirá mais segura e o Estatuto do Desarmamento completará o seu papel.