Cores vibrantes,pés e mãos gigantes, desproporcionais à pequenez de sua cabeça cabisbaixa.A tela "O abaporu",de Tarsila do Amaral representa a pluralidade do brasileiro,evidenciando seu contato direto com a terra.No entanto,a cabeça miúda simboliza a falta de senso crítico e denota limitação.Diante disso,pode-se concatenar tal obra à intolerância praticada contra as diversidades culturais brasileiras.Afinal,quais fatores evidenciam essa mentalidade fechada e tão desproporcional às riquezas étnicas e culturais do país? A priori,tem-se na história,o genocídio indígena e a exploração africana.O trabalho escravo de negros e a imposição ao catolicismo foram algumas das manifestações intolerantes do eurocentrismo português.Além disso,a proibição de rituais indígenas,cultos candomblés e até mesmo práticas esportivas,como a capoeira africana,ilustram o preconceito e a discriminação cultural desses povos que hoje,infelizmente, sofrem os resquícios desse processo. A posteriori,na contemporaneidade,tem-se as consequências dessas discriminações.O racismo é uma realidade cruel no Brasil.Segundo dados do IPEA,a cada 100 pessoas assassinadas,71 são negras.Esses dados alarmantes,referem-se à violência racial e discriminatória no país.Ademais,os índios também sofrem o desrespeito cultural aos seus direitos básicos.Exemplos disso são as construções hidrelétricas e as disputas pela posse de terras indígenas para a expansão agropecuária.Outrossim,esses não são os únicos grupos afetados pela intolerância no Brasil.Homossexuais,religiosos e estrangeiros também são vítimas desse male.A homofobia,a intolerância religiosa e a xenofobia evidenciam a importância de se abordar esse assunto nas escolas e na mídia,a fim de evitar o desrespeito e o impedimento da liberdade de culto e escolhas individuais. Tais fatos podem ser analisados à luz de Nietzche,em seu livro "genealogia da moral".Nele,o autor elucidou sobre a diferença entre moral e ética.Para ele,a moral estaria relacionada às orientações étnicas e culturais dos indivíduos.Já a ética seria o respeito universal a todos,independente do caráter moralizante.Sendo assim,pode-se relacionar a intolerância às pluralidades brasileiras à moral que discrimina as minorias étnicas e culturais do país. Nessa diretriz,é papel do Estado assegurar o respeito à diversidade e liberdade individual,por meio de leis mais severas contra o racismo e qualquer outro tipo de discriminação.Ademais,as ONGs poderiam trabalhar em prol da divulgação de culturas diversas,sejam elas nacionais ou estrangeiras,elaborando palestras nas escolas e cursos para o conhecimento da pluralidade cultural.Além do mais,a escola e a mídia tem papel conscientizador, fundamental na formação de cidadãos críticos e adeptos às diversidades.Por fim,caberá ao indivíduo exercer a ética nietiana e ampliar sua mente,deixando de ser o homem de "o abaporu" para se tornar coerente à pluralidade de sua terra.