Título da redação:

Lógica Lombrosiana

Tema de redação: Pluralidade e (in) tolerância no Brasil

Redação enviada em 06/09/2017

No século XIX, Cesare Lombroso, médico e criminologista, formulou a teoria do criminoso nato, a qual relacionava determinadas características fisiológicas e comportamentais a um perfil criminal. Atualmente, tal raciocínio perpetua-se de forma análoga, já que características físicas, religiosidade e orientação sexual são critérios de análises estereotipadas e pejorativas, propagando a intolerância. Ora, a intolerância e fruto de uma lógica lombrosiana. Em primeira análise, a propagação de formas de violência simbólica através dos meios de comunicação contribui para a problemática. Segundo o filósofo Pierre Bourdieu, a violência simbólica é a realização de um processo de hierarquização sem uso da violência física. E é desta forma, através de visões caricatas transmitida por meio de novelas e séries, onde personagens negros geralmente possuem subempregos, e em propagandas, onde mulheres comumente são retratadas de forma machista, que a mídia promove de forma implícita a hierarquização de seguimentos sociais, contribuindo para um cenário de preconceito e discriminação. Logo os meios de comunicação são agentes da perpetuação da intolerância. Ademais, a ausência de um estado representativo agrava essa mazela. Os sistemas político e eleitoral vigentes no país funcionam como engrenagens de manutenção do “status quo”, atendendo ao interesse de uma pequena parcela da população, pois o sistema eleitoral proporcional com lista aberta possui como consequência a eleição de parlamentares sem apoio popular, que influenciados pelo presidencialismo de coalisão, acabam reduzindo a representatividade de grupos sociais vulneráveis. Desta forma, a defesa de pautas que mirem a promoção da igualdade de gênero, a inclusão social e racial além da defesa das pessoas LGBT encontram-se enfraquecidas. Portanto uma reforma nos sistemas político e eleitoral, de forma a elevar a representatividade política de seguimentos sociais, comumente vítimas de intolerância, soa necessário. Repensar a intolerância como consequência de visões distorcidas da realidade é importantíssimo para construção de um mundo mais justo e tolerante. Por conseguinte, a participação de órgãos de fiscalização da mídia na apuração de algum tipo de violência simbólica praticado, além de campanhas, via redes sociais, por páginas virtuais de destaque apelando ao fim da intolerância, reduziriam a propagação do discurso de ódio e contribuiriam para uma sociedade mais acolhedora.