Segundo Simone de Beauvoir, filósofa existencialista e precursora do movimento feminista, "não se nasce mulher, torna-se mulher", evidenciando que a identidade feminina e o seu papel no seio da sociedade não são preestabelecidos por concepções biológicas ou psicológicas. Nesse contexto, a representação da mulher no meio social e sua busca por liberdade devem ser constantemente redesenhadas, visto que o ideário machista e a cultura opressora contra a classe feminina resulta, frequentemente, na ascensão dos índices de violência física, verbal ou psicológica. Dessa forma, a nação brasileira edifica uma sociedade pautada em ideais arcaicos de desigualdade entre os gêneros, marginalizando a figura da mulher e colocando-a como ser inferior. Ao longo do tempo, os padrões impostos sobre a mulher pela figura masculina resultam, hodiernamente, nos crescentes casos de relacionamento abusivo, uma vez que a identidade feminina é fragilizada e essa passa a acreditar na normalidade de sua submissão perante o homem. Assim, as mulheres vítimas dessa condição tornam-se cúmplices, de alguma forma, dessa situação, em principal, ao aceitarem serem tratadas como inferiores e se colocarem de maneira passiva diante dessa realidade. Desse modo, a libertação dessa atmosfera opressora é vinda por meio do livre arbítrio, quando a mulher, de fato, impõe-se sobre sua condição e passa a lutar pelos seus direitos democraticamente instituídos. Outrossim, a romantização do ciúmes e de comportamentos controladores sobre a figura feminina faz com que as mulheres que sofrem com esses ações, ao invés de se sentirem violadas, sintam-se, de algum jeito, protegidas e amadas, criando no imaginário social a ideia de que a submissão feminina aos "cuidados" do homem seja algo positivo. Ademais, essa concepção ameniza a culpa dos agressores, colocando-os como protetores e apaixonados, consolidando a ideologia machista sobre os direitos femininos. Dessarte, indubitavelmente, medidas são necessárias para reverter esse cenário opressor e segregador dentro da estrutura social. O Estado deve investir parte das verbas destinadas a políticas públicas em campanhas que divulguem os comportamentos presentes em relacionamentos abusivos, assim como as medidas de solução para essa situação, como locais e números de telefones por onde possam ser feitas denúncias. Logo, a sociedade estará mais alerta sobre como proceder nesses casos e, com o auxílio da justiça, os agressores serão julgados pelos seus atos, amenizando esse cenário barbaresco. Em vista disso, as mulheres poderão exercer seus direitos legais e, enfim, cravar o seu lugar na sociedade.