Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: Os limites entre humor e ofensa

Redação enviada em 28/06/2018

A liberdade de expressão é um direito fundamental protegido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. No entanto, a liberdade para se expressar usando como ferramenta o humor, por vezes, transcende os limites da ética ao proferir discursos que incentivam o ódio e a discriminação de minorias. Isto posto, ao invés de se tratar de censura, o limite do humor em alguns casos é necessário para que grupos historicamente dominantes da sociedade não continuem oprimindo outros grupos sociais. Em primeira análise, vale salientar que toda forma de discurso carrega uma ideologia. Assim, muitas questões relevantes socialmente podem ser colocadas em discussão por meio das piadas, como críticas sociais ou políticas, a exemplo do que ocorre no livro “O Bem-Amado”, do escritor brasileiro Dias Gomes. Percebe-se, então, que assim como o teatrólogo Gil Vicente proferia, o riso pode ser usado para tentar corrigir costumes, revelando a importância dessa forma de expressão. O humor não pode se valer da existência da liberdade de expressão, contudo, para violar demais direitos constitucionais, como a proteção da honra das pessoas. Nesse contexto, é importante perceber que até uma aparente piada inofensiva carrega valores e visões de mundo e, dessa maneira, uma forma simples de entretenimento pode tornar-se um local em que os preconceitos são compartilhados e solidificados na sociedade. Não por menos, pesquisadores do IEL – Instituto de Estudos da Linguagem –, da UNICAMP, estudaram como as anedotas podem reforçar juízos de valor preconcebidos dentro de uma sociedade. Comumente a mídia cria programas de humor pautados em estereótipos, por exemplo, que satirizam a maneira de falar do nordestino ou usam termos pejorativos para referirem-se a homossexuais, reforçando preconceitos de grupos historicamente discriminados na população. Infere-se, portanto, que o humor não deve ser mais uma ferramenta que promova a ofensa. Cabe, pois, ao Ministério dos Direitos Humanos, associado ao Ministério da Cultura, criar locais de denúncia, como aplicativos ou números de telefone, em que as pessoas possam relatar quando sentirem-se ofendidas com um comediante ou com um espetáculo, que deverá ser fiscalizado por agentes que decidirão se os artistas realmente exploram preconceitos e estereótipos e, portanto, deverão ser punidos com multas ou com o cancelamento do espetáculo. Destarte, o humor será usado como a ferramenta de crítica de Gil Vicente ou de lazer, ao invés de tornar-se mais um fator de segregação.