Título da redação:

O valor da doação

Tema de redação: Os empecilhos da doação de sangue no Brasil

Redação enviada em 28/08/2017

Doar sangue é, certamente, uma das demonstrações mais nobres de solidariedade e cidadania: trata-se de um processo fundamental ao sistema de saúde pública, além do viés humanitário. Apesar disso, estamos distantes de ampliar a realização desse processo à meta global de 3% da população brasileira. Ao analisar o Brasil, em particular, constatam-se diversos empecilhos que dificultam o alcance desse objetivo, sejam de aspecto social ou cultural. Nesse sentido, um dos principais fatores de risco à doação é a presença de patologias infecciosas transmitidas pelo sangue. Essas doenças, em muitos casos endêmicas a região equatorial, compõem um cenário problemático nas regiões mais vulneráveis do Brasil, onde somam índices expressivos de contaminação. Estes, de modo geral, são consequência do grave estado de calamidade social de grande parte da população, em virtude do atendimento médico precário e a ineficiência do saneamento básico – responsável por vetores patológicos como a infecção fecal-oral -, além da presença de agentes naturais, como a proliferação de mosquitos transmissores. Assim, o sistema de saúde pública brasileiro torna-se um impedimento à disseminação de doações de sangue. Em contraponto, a mais significativa lacuna social que dificulta essa propagação foge da esfera estrutural: trata-se da inércia da população brasileira. Diversas pesquisas mostram que o motivo mais frequente para não se tornar doador é a simples ausência de noção da importância do processo. Seja pela carência de campanhas publicitárias e de acesso aos postos de saúde, seja pela ausência de uma educação pró-doação nas escolas, o brasileiro médio não se vê inclinado a se submeter ao processo, por não reconhecer o seu real valor. Em linhas gerais, tem-se a confirmação da teoria de Sérgio Buarque de Holanda: a tese do brasileiro como “homem cordial”, que se prende a um egoísmo personalista, em detrimento da compreensão da sociedade como uma esfera pública e impessoal. Em síntese, configura-se como fundamental a superação desse caráter imobilizador na sociedade brasileira. Para isso, o Ministério da Saúde precisa investir recursos em campanhas de mobilização social, e as escolas públicas e privadas do país devem instituir programas e palestras de divulgação da prática, construindo sua valorização dentre a comunidade. Além disso, destaca-se o papel da iniciativa do setor civil, por meio de ONGs, no aprimoramento do cenário de saúde nas regiões mais carentes do país.