Título da redação:

Em nome do banco, da bolsa e do doador anônimo; amém

Tema de redação: Os empecilhos da doação de sangue no Brasil

Redação enviada em 01/09/2017

Por volta do ano 10.000 a.C., o ser humano deixou de ser nômade, dominou a agricultura e pecuária, se agrupou em sociedades e inaugurou a Idade da Pedra Polida. Desde então, nossa estrutura social envolve, no geral, divisão de funções, mas, quando necessário, união, visando ao bem maior. Hodiernamente, no Brasil, há uma crise concernente à união, sobretudo no setor de doação de sangue. O contexto social vigente no país, conquanto seja mais interativo que em países europeus, por exemplo, é formado por pessoas isoladas em seu próprio universo de concentração. É comum ver pessoas cruzando nas ruas sem cumprimentos, muitas vezes a consagrar seu isolamento com fones de ouvido. Tal cultura contribui para o raciocínio inconsciente no modelo "se eu não conheço, a pessoa não existe". Como consequência, quase 10% dos não doadores alegam não doarem por "não se importarem" com quem precisa. Esse não é, contudo, o único problema. Anualmente, são relatados milhões de tentativas frustradas de doação de sangue. Segundo a revista "Diplomatique", mais da metade dos hemocentros do Brasil declaram rejeitar parcela estatisticamente relevante dos pretendentes a doar. Esse fato é consequência do exagero na caução dos mesmos, que fazem exigências compreensíveis, como não ter usado drogas nas últimas horas, em meio a outras completamente ultrapassadas e até criminosamente preconceituosas, como não ter tido relações homossexuais ou viajado para estados como Acre, Amazonas e Mato Grosso. Destarte, a fim de garantir a suficiência quantitativa nos bancos de sangue, é necessária a atualização dos filtros iniciais dos hemocentro. Devem ser abolidos os critérios homofóbicos e xenofóbicos supracitados. Ademais, a União deve seguir modelos de sucesso, como a Áustria, que oferece descontos fiscais em dezembro às empresas que fizerem ação de doação de sangue. O cidadão também deve fazer sua parte. Se cada doador levar consigo mais uma pessoa, o Brasil supre a necessidade de sangue com folga de 0,6%. Dessa forma, ainda no curto prazo, podemos esperar uma sociedade mais saudável e engajada, podendo, quem sabe, deixar na gaveta seus fones de ouvido.