Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: Os efeitos da erotização infantil no Brasil

Redação enviada em 16/06/2018

Pablo Picasso, em seu quadro “La fillette à la corbeille fleurie”, retrata uma criança nua acompanhada de um cesto de flores. A obra, após ter sido leiloada por milhões de dólares, despertou entre os especialistas em artes plásticas uma discussão acerca da razão da escolha temática do artista e dos perigos da erotização infantil. Contemporaneamente, os efeitos dessa sensualização denotam a imprescindibilidade da compreensão dos fatores que alicerçam esse modelo comportamental. Com efeito, esse paradigma instaurou-se na sociedade brasileira como subproduto do sistema capitalista e da compactuação do corpo social. Uma primeira perspectiva analítica, sob a ótica sociológica, denota que a precoce adultização das crianças possui estreita relação com o capitalismo. Essa correlação pode ser explicitada a partir da percepção da objetificação dos corpos e da propagação de padrões estéticos realizadas pelos meios de comunicação em peças publicitárias e artísticas, as quais afetam atualmente o público infantil, visto que as crianças, por não possuírem senso crítico formado, tornaram-se o foco das grandes empresas. Nesse sentido, esse processo relaciona-se ao conceito de “indústria cultural” criado na Escola de Frankfurt, que defende que há, na pós-modernidade, a tendência da criação de cultura com o intuito de construir padrões sociais. Dessa forma, as agências de publicidade sensualizam a imagem das crianças com o intuito de transmitir a ideia de que elas são cidadãos formados, possuidores de desejos e poder decisório de compra, para justificar a venda de seu produto e estimular uma ideologia consumista na parcela mais vulnerável da sociedade. Ademais, em um segundo plano, a passividade da população alicerça a antecipada sexualização dos infantes. Esse processo encontra origem na negligência familiar em relação ao conteúdo que os mais jovens têm acesso: novelas com temáticas destinadas ao público adulto, vídeos de músicas que erotizam as crianças e propagandas que estimulam a compra de acessórios, roupas e maquiagens. Essa omissão familiar fere a democracia, uma vez que, ao desatender as necessidades dessa fase e ao retirar desse grupo o direito de ter, no tempo certo, as descobertas que moldarão seu caráter, descumpre-se o Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual afirma que as crianças gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, e, como protagonistas sociais em evolução, carecem de atenção e extremo cuidado. Dessa maneira, os mais jovens tornam-se vítimas da displicência, do ferimento de seus direitos e da desconstrução de sua dignidade. A erotização infantil consubstancia, portanto, o estabelecimento de um ideal consumista na infância e um ataque à Constituição. À vista disso, com o intuito de controlar as informações que são expostas diariamente às crianças, o Poder Executivo Federal, sob forma do Ministério Público, deve promover a regulação dos conteúdos exibidos em campanhas publicitárias, por meio do estabelecimento de horários adequados para a transmissão de determinadas peças de publicidade, da proibição da veiculação de imagens sensualizadas de menores de idade e da conseguinte imputação de multas a empresas que transgridam as regulamentações. Desse modo, construir-se-á uma nação preocupada com a dignidade de seus infantes, e cenas como a retratada por Picasso não serão mais observadas nos meios de comunicação do país.