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Redação sem título.

Tema de redação: Os efeitos da erotização infantil no Brasil

Redação enviada em 23/05/2018

“O caçador de pipas”, livro escrito por Khaled Rosseini, narra as durezas do Afeganistão dominado pelo Talibã. Em uma de suas cenas, uma criança maquiada dança sensualmente para o agrado dos terroristas, algo que choca e causa grande desconforto a quem lê. Todavia, é possível apontar situações análogas a essa no Brasil, como o assédio massivo sofrido por Valentina, uma participante do Master Chef Junior, ou o caso de MC Melody, funkeira mirim que protagoniza performances provocantes em bailes funks. Esses exemplos apontam para um país que ainda naturaliza a erotização infantil e expõe os pequenos a ambientes hostis de desenvolvimento, o que acarreta em prejuízos de ordem pessoal e social. Primeiramente, deve-se considerar que crianças constituem o grupo mais vulnerável da sociedade. Dependentes integrais dos cuidados adultos, elas não têm como se defender ou questionar quando são expostas a discursos que, à primeira vista, parecem inofensivos, mas, na prática, infligem a elas uma sexualidade precoce. Assim, quando meninos escutam falas que glorificam a virilidade sob uma ótica sexual, ou meninas ouvem adultos supervalorizando a aparência sensual como fundamental, impõem-se aos pequenos preocupações e ansiedades que os desvia do universo lúdico da infância. Ainda que a psicanálise freudiana já tenha discutido a sexualidade infantil, esse estímulo, antes da maturidade devida, pode ter como consequência de longo prazo adultos que não saibam lidar saudavelmente com o sexo. Além disso, é notório que as meninas são atingidas mais intensamente nesse processo. A indústria da beleza, que lucra com a imagem da “novinha”, a mulher ideal com a aparência sempre jovem, oferece produtos que deveriam ser consumidos por adultas, mas existem na versão juvenil. Sapatos de salto, sutiãs de bojo e maquiagens, objetos aparentemente banais, contribuem, na verdade, na construção contraditória de uma criança amadurecida e, por isso, disponível para práticas sexuais. É a concretização da Lolita de Nabokov, uma história que, longe de se tratar de um conto de amor, reconstitui as memórias de um narrador pedófilo. A erotização, assim, aloca no imaginário coletivo a figura da ninfeta e obscurece os limites entre a infância e a idade adulta, expondo menores aos perigos da pedofilia. Dessa forma, é nítido que a erotização da infância é um processo de violência. Ainda que o Estatuto da Infância e do Adolescente preveja os direitos desses grupos, outras medidas devem ser tomadas para garantir a sua integridade mental e física na prática. Diante de uma sociedade descuidada, é importante que as soluções busquem educar as pessoas, bem como protegê-las da ação de agentes maiores como a indústria ou a mídia. Assim, é crucial que a escola trabalhe junto com psicólogos, promovendo encontros periódicos com os pais para conversar sobre a educação dos estudantes de forma holística, incluindo debater sobre sexualidade. Ademais, o governo deve criar leis que vetem produtos como os já citados, além de regular os espaços de propaganda. Não é uma tarefa fácil, mas só assim daremos o primeiro passo para assegurar um crescimento digno e saudável às próximas gerações.