A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 -principal documento que serve de referência ao exercício da cidadania- assegura a todos a igualdade social. Entretanto, os dilemas enfrentados pelos portadores de autismo na sociedade brasileira evidenciam que esse direito não é garantido na prática. Nesse contexto, há dois fatores que devem ser destacados, como a negligência governamental do país e o caráter adverso contemporâneo. Em primeiro plano, é mister salientar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 garante a todos os cidadãos o direito à educação. No entanto, quando relacionado aos cidadãos autistas, o Poder executivo não efetiva integralmente essa norma. À Vista disso, a Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo (Abraça) evidencia que grande parte das instituições públicas de ensino não possuem adequações, como profissionais habilitados e grade de ensino especializada, para os alunos que possuem o autismo. Nesse sentido, a ausência de reconhecimento social por parte política influencia esse grupo à um afastamento da sociedade. Com efeito, é inaceitável um país, identificado mundialmente pela vasta cultura e diversidade, pecar no acolhimento das minorias. Outrossim, parcela da problemática enfrentada compete, também, ao temperamento atribuído pela sociedade atual. Infelizmente, observa-se que alguns dos dilemas que os autistas resistem, como a exclusão e o próprio preconceito, são reflexos de uma consciência coletiva não adaptada para tal situação. Consoante ao sociólogo Zygmunt Bauman no livro “Modernidade Líquida”, o ser humano contemporâneo apresenta relações sociais fluidas, como o individualismo, pregadas, a priori, pelo desenvolvimento técnico-científico. Dessa forma, acarretados pela contração da realidade, os indivíduos vêm perdendo o contato direto com o próximo e, nessa perspectiva, percebe-se uma dificuldade que intervém diretamente nos relacionamentos interpessoais. Assim, é imperativa a existência de mudanças nos valores coletivos para que todas as pessoas consigam se envolver na comunidade de forma harmoniosa. Fica evidente, portanto, que os dilemas enfrentados pelos portadores do autismo resultam a um impasse social e, por isso, devem ser dirimidos. Cabe ao Ministério da Educação reestruturar o ensino vigente com uma adequação escolar que integre todos os cidadãos. Essa ação deverá acontecer por meio de uma reforma estrutural e física, advinda por investimentos do Poder Executivo, nas instituições escolares. Nesse viés, será imperativo a contratação de profissionais aptos ao ensino especializado e a adição de uma grade de ensino adequada à situação. Além disso, o aperfeiçoamento do meio discente é de extrema importância e, assim, deverão ser contemplados espaços que estimulem a inclusão de todos. Desse modo, será possível garantir não só o direito de ensino, mas, principalmente, o adentramento da igualdade social no Brasil.