Em 1989, o curta-metragem denominado ‘Ilha das Flores’ mostrou à população brasileira a realidade do desperdício de alimentos no país. No filme, a trajetória de um tomate descartado ilustra o triste cenário da insegurança alimentar, que aflige até hoje boa parte dos brasileiros. Enquanto isso, um grupo de pessoas vive a realidade da ostentação alimentar, preocupando-se mais em postar fotos dos pratos do que propriamente aproveitar as refeições. Entretanto, apesar da gritante diferença, ambas as realidades trazem consigo um inimigo oculto: o uso abusivo de agrotóxicos. Recordista em agronegócios, o Brasil produz cerca de 268,1 milhões de toneladas de alimentos todos os anos, conforme aponta o Governo Federal. Por sua vez, tal feito somente é possível graças ao uso massivo de agrotóxicos, já que as características ambientais brasileiras são propícias ao desenvolvimento de pragas, segundo o Ministério da Agricultura. Assim sendo, o brasileiro consome, involuntariamente, cerca de 5,2 litros de pesticidas por ano, de acordo com levantamento realizado pelo site ‘Brasil de Fato’. Em consequência disso, tornam-se mais frequentes os casos de câncer, depressão e suicídio associados ao consumo e à exposição aos defensivos agrícolas, revela o INCA (Instituto Nacional do Câncer). Mediante os fatos, não restam dúvidas de que o uso indiscriminado de agrotóxicos revela-se como um sério risco à saúde pública brasileira. Consoante ao cenário ilustrado no documentário ‘Ilha das Flores’, a face mais cruel do tema é o desperdício de comida. Infelizmente, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) aponta para a perda de cerca de 10% da produção anual, o que piora sensivelmente o cenário da fome no Brasil e atinge de forma contundente os mais pobres que, não raro, buscam alimentos em lixões e aterros sanitários. De acordo com pesquisa realizada pela EMBRAPA, a cultura da fartura, amplamente difundida no Brasil, é uma das grandes responsáveis pelo desperdício alimentar, já que induz a população a fazer compras e porções grandes, o que naturalmente leva ao desperdício. Por outro lado, enquanto uns buscam refugos para fugir da fome, outros se preocupam somente em ostentar as refeições nas redes sociais, esquecendo-se, com frequência, da insegurança alimentar vivida por muitos e contribuindo ativamente para a formação de um dos paradoxos mais insensatos da atualidade. Mediante o exposto, torna-se urgente a necessidade de ações da sociedade civil para diminuir a perda de alimentos e erradicar a fome no país. Para tanto, caberá às instituições que comercializam alimentos a criação de projetos que reciclem os excedentes de frutas, verduras, grãos e carnes em condições de consumo, destinando-os às instituições sociais que atendem populações carentes. Essas, por sua vez, deverão converter os donativos em refeições feitas por equipes voluntárias de nutrição e cozinha, garantindo a distribuição dos alimentos às famílias atingidas pela fome.