Título da redação:

A microfísica do poder

Proposta: Os desafios do bullying nas escolas

Redação enviada em 21/10/2017

Paulo Freire, referência da pedagogia mundial, propôs uma educação voltada para a paz, isto é, para o respeito ao outro. Todavia, indo de encontro à sua visão, o contexto do século XXI expõe o bullying - ação agressiva repetitiva contra outrem - como uma das violências que mais cresce no mundo, segundo Cléo Fantes. Assim, dado que afeta a sociedade em seu âmago - a escola -, faz-se necessária a sua discussão. Em primeiro plano, é importante analisar o aumento da presença desse fenômeno. Isso é incentivado pelo valor máximo contemporâneo: o individualismo, apontado por Zygmunt Bauman, em sua teoria da Modernidade Líquida, como o principal causador de conflitos. Esse fator, então, implica na prática do bullying, na medida em que, inserido em um meio cuja prioridade é o prazer momentâneo, induz o hedonismo e o menosprezo alheio simultaneamente. Logo, por não ter um fim em si mesmo, o revés exige mais do que medidas corretivas em seu combate. Outrossim, embora haja uma reação governamental, como a lei brasileira promulgada em 2016 que obrigada os colégios a terem um projeto de prevenção, o não cumprimento dessa contribui para a persistência do viés. De acordo com a filósofa Hannah Arendt, esse descaso pode ser atribuído à banalização do mal, a qual geralmente é reflexo de atos institucionalizados no Senso Comum. Nesse cenário, o tardio banimento da palmatória, por exemplo, resultou em resquícios quanto à normatização da agressão. Dessa forma, quadros - vide o retratado pela série "Os 13 porquês", em que o pedagógico nada faz para inibir ofensas entre os alunos - tornam-se comuns. Depreende-se, portanto, que o bullying - representação da microfísica do poder, de Foucault - deve ser extinto. Para que se desconstrua o individualismo e se promova o respeito às alteridades, os órgãos responsáveis pela educação têm que enfatizar o ensino da ética na matéria de filosofia, dando mais horas a ela na grade curricular. Por fim, é imprescindível que os estados, além de criarem leis que visem à prevenção da prática - tal como fez o Brasil -, busquem fiscalizar as instituições a fim de garantir seu cumprimento, aplicando multas àquelas que se ausentarem do objetivo. Dessa maneira, a paz de Paulo Freire ficará mais próxima da realidade.