Título da redação:

Conserva a dor

Tema de redação: Evolução do conceito de família

Redação enviada em 19/06/2017

A música “Como nossos pais”, de Elis Regina, expõe que mesmo com os avanços, desde o século XX observa-se, no corpo social, um subdesenvolvimento que mantém, até os dias atuais, os ideais conservadores refletidos no conceito da família hodierna, tendo em vista sua limitação. Contudo, como hoje o arranjo familiar é diverso, abrangendo da união heterossexual ao poliamor, simplificar a família à norma tradicional é negar a isonomia, liberdade e amor nas relações interpessoais. A tentativa de definição da família advém de moldes patriarcais que, dissimuladamente, travestem, sobretudo, a inaceitação do homossexual na sociedade. Essa conjuntura se deve à naturalização da heterossexualidade que, segundo a filósofa contemporânea Judith Butler, trouxe aos demais gêneros o caráter aberracionista. Porém, gradativamente, houve uma mudança de pensamento na sociedade, sendo possível dar atenção a alguns pontos específicos, como o casamento. Assim, se a atributividade coloca os indivíduos no mesmo patamar de igualdade, de acordo com o ministro Edson Fachin, o ente familiar não é mais uma única definição, já que aqueles desejosos por manter uma relação homoafetiva ou polinucleada, amparados isonomicamente, devem ter esse direito. Apesar dos avanços, não há uma aceitação sobre quem pode constituir uma família e, desta forma, alguns discursos, a exemplo do de preocupação com a formação das crianças, soam coerentes na tentativa de firmar o contexto conservador. Todavia, tomando como base o silogismo, o qual diz que a lógica de um discurso não o valida, afirmar que os filhos dos casais homossexuais ou de famílias polinucleadas terão maiores dificuldades identitárias é, na verdade, falacioso, visto que, de acordo com a psicóloga Cristina Silva, as crianças conseguem aceitar rapidamente a composição familiar. Dessa forma, portanto, a família está em constante modificação. Logo, tentar defini-la é uma prática excludente e que revela atraso social. Nesse sentido, com o fito de romper o ciclo dos ideais tradicionalistas, os Governos Municipais precisam investir em palestras, nas comunidades, que versem sobre a pluralidade familiar. Atrelado a isso, as escolas podem propor rodas de debate nos contraturnos, acerca da diversidade da família, a fim de destituir velhos e possíveis preconceitos. Com esse auxílio, de acordo com Elis Regina, quando se larga o passado, percebe-se que o novo sempre vem.