Título da redação:

A obsoleta "moral do rebanho"

Tema de redação: Evolução do conceito de família

Redação enviada em 01/11/2017

Segundo Lavoisier, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Embora tenha feito referência à físico-química, é possível observar sua premissa no âmbito sociocultural. No contexto do Brasil, pode-se notá-la na mudança da formação familiar: de um modelo padrão – pai, mãe e filhos – para o pluralismo contemporâneo, que só diz respeito à conexão afetiva. Entretanto, esse fenômeno encontra barreiras legislativas e sociais, impedindo sua consolidação. Em primeiro plano, é importante frisar que as famílias constituídas por casais homoafetivos, poliamorosos, pais e mães solteiras são maioria no país, conforme o IBGE. Porém, essa realidade vai de encontro ao que é reconhecido pela Carta Magna e pelo ideal comum: somente o modelo tradicional. Isso ocorre devido à imposição, desde o início da colonização brasileira – com a missão jesuítica -, de valores cristãos, os quais condenam o divórcio, a homossexualidade e a poligamia. Assim, mesmo no século XXI, em um Estado laico, vê-se o forte poder político e o cultural, representados, por exemplo, pela presença de uma grande bancada fundamentalista na Câmara. À vista disso, a influência da Igreja contribui para a insistência dos preconceitos e da desigualdade de direitos. Aliado a esse fator de crença, a deficiência educacional também contribui para a persistência dos entraves social e legislativo. De acordo com Sócrates, os erros são consequências da ignorância. Sendo assim, uma grade acadêmica que não valoriza as ciências humanas – vide a dos Institutos Federais, que oferecem apenas um quarto das horas anuais dedicadas à matemática para serem divididas entre sociologia e filosofia-, resulta em cidadãos desinformados e, logo, incapazes de criticar o Senso Comum. Prova disso são as decisões inconsistentes que são aprovadas, mas que não têm reação popular, como a de um juiz, em 2017, que permitiu psicólogos a tratarem a homossexualidade como doença, mesmo que a OMS já tenha desmistificado esse conceito. Depreende-se, portanto, que a superação da "moral do rebanho" – concepção de Nietzsche para afirmar o seguimento indiscriminado de normas advindas da religião – faz-se necessária. Dessa maneira, o Poder Legislativo deve fazer jus à laicidade do Estado e ao princípio de igualdade previsto na Constituição, reformulando as leis que de concepção de família e dos seus direitos a fim de que todos os grupos sejam incluídos. Por fim, é imprescindível que o Ministério da Educação valorize o ensino de matérias que dialogam sobre os distintos fenótipos brasileiros –área de humanas-, redistribuindo a carga horária para que a massa esteja apta a mudar conjunturas desfavoráveis.