Os embates entre ciência e moral não é uma novidade do século XXI. Desde épocas remotas têm-se registros de fatos envolvendo tais embates como, por exemplo, a condenação do filósofo Sócrates na Grécia antiga, que foi morto sob a acusação de corromper a juventude de sua cidade, simplesmente por estimular discussões teóricas sobre a busca da verdade. Certamente, os questionamento de Sócrates desafiavam a moral da sociedade de sua época. Um outro exemplo é o caso de Galileu Galilei, que chegou a ser julgado pela Igreja no século XVII por contrapor as ideias vigentes à época relacionadas ao sistema planetário e suportadas pela Igreja. Os exemplos citados apontam como as evoluções científicas e de pensamento podem ser questionados por, aparentemente, estarem em desacordo com a moral vigente de uma sociedade. Em nosso tempo, questões como a degradação ambiental devido à expansão agrícola associada ao uso predatório da terra e a manipulação genética para tratamentos de doenças com o uso de células tronco embrionárias são alguns temas que ilustram a polêmica relação entre o avanço técnico-científico e a moral atuais. No caso da expansão agrícola, o conflito reside na necessidade de se investir na melhoria da produtividade e no aumento da produção, ao mesmo tempo em que tais demandas requerem o desmatamento de áreas florestadas. No caso do uso de células tronco embrionárias, o conflito reside no fato de ter que se sacrificar um embrião humano, o que é contestado pela moral religiosa, que alega um suposto assassinato de um ser vivo. É certo que tanto a ciência quanto a moral vigente na sociedade estão em constante evolução e não devem ser encaradas como campos que apenas se contrapõem, mas que se complementam. A própria sociedade não aceita abrir mão dos avanços tecnológicos, mesmo em situações nas quais, aparentemente, a tecnologia parece gerar paradoxos legais e morais. O recente bloqueio do WhatsApp devido à recusa da empresa em colaborar com a justiça brasileira para o fornecimento de dados de supostos criminosos que estavam usando o aplicativo para planejar crimes é um exemplo da reação da sociedade. Em questão de minutos após o bloqueio, o que se viu foi uma revolta generalizada contra o juiz que determinou o bloqueio do aplicativo e, poucas foram as manifestações de apoio ao bloqueio sob a justificativa moral. A conciliação entre o avanço científico e a moral vigente demanda a implementação de técnicas de sustentabilidade na criação de novas tecnologias, bem como um constante diálogo entre cientistas, sociedade e governo. No campo ambiental, por exemplo, a tecnologia precisa também ser pensada em como minimizar e recuperar possíveis danos provocados ao meio ambiente e não apenas focar em novos e mais avançados produtos. A sociedade deve ser conscientizada para encarar os avanços científicos como desafios saudáveis à sua moral e não como desrespeito à mesma. O investimento nesta conscientização da sociedade passa por atos educativos através de disciplinas e atividades escolares para jovens e adolescentes em todos os níveis de escolaridade.