A mentalidade que rege a sociedade contemporânea tem suas raízes no Renascimento, no qual o capitalismo se solidificava, após o renascimento comercial. A ciência, que no Renascimento e Iluminismo tornara-se sinônimo de verdade e progresso, deveria fazer mais do que apenas melhorar as condições de vida: ela levaria a sociedade a um estado de igualdade, projetado nas utopias. Será que isso se realizou ? Primeiramente, há de se dar ênfase no fato de que o conceito de ciência surgido no Iluminismo, que a coloca num pedestal, acima de atividades banais, impossibilita avanço do ponto de vista ético, pois opiniões subjetivas tornam-se verdades "universais". O Positivismo é um claro exemplo, com seus estudos sociológicos impregnados pelo eurocentrismo. Nesse viés, o desenvolvimento científico encontra-se muito ligado ao capitalismo, uma vez que a maior parte da evolução tecnológica tem como fim aumento da produtividade e redução dos custos industriais. Até em medidas que aumentam a qualidade de vida de uma população, escondem-se interesses ocultos : a urbanização intensa que houve em meados do século passado nos EUA e há poucos anos na China foi fruto de tentativas de escape de crises financeiras, não da preocupação com o bem-estar do próximo, segundo David Harvey, eminente geógrafo. Há ainda o ponto de vista ambiental da situação: desde que houve o fim do pensamento mítico como desdobramento do capitalismo e consequente advento do pensamento racional, a natureza deixa de ser considerada obra divina, torna-se mera fonte de matéria prima para o ser humano, implacável na crença em suas próprias ações. O planeta fornece cada vez mais evidências que corroboram o perigo de extinção da humanidade. Seria moral tamanho desleixo com a vida das futuras gerações ? Em suma, a ciência não é uma atividade moral e ética por si só, o conteúdo produzido por ela depende das crenças e carga cultural de quem a pratica, apesar de que, no senso comum, tais valores parecerem ser intrínsecos a ela. A única forma de levar uma população a perceber a falta de veracidade daquilo que lhe é imposto é a valorização de disciplinas como sociologia e filosofia, tanto em colégios públicos como privados, as quais fazem os estudantes transcenderem a condição de meros alunos: tornam-se seres pensantes e questionadores.