A adoção é um ato de extrema importância na sociedade brasileira, a qual se insere em uma realidade de acentuada segregação social que tem, entre outros, um problema bastante característico: o abandono de crianças. Esse se dá, principalmente, por pais em condição de moradores de rua, viciados em drogas e vítimas do desemprego e da pobreza no geral. Assim o processo adotivo traz uma nova perspectiva de vida para crianças que poderiam ter futuros corrompidos pela sua situação de origem. Nesse contexto, as conquistas referentes aos cuidados e direitos delas são significativas como, por exemplo, a criação de juizados da infância e juventude e até mesmo a aprovação do ECA. Entretanto, os desafios da adoção no Brasil são ainda relativamente grandes. Entre eles, o que tem grande destaque são as preferências e exigências dos interessados em adotar. Oriundo de uma sociedade movida a padrões de beleza e hierarquização de etnias, mesmo que sutilmente, esse impasse contribui com a procura dos famosos “bebês de propaganda”, isto é, aqueles com traços europeus, pele clara e cabelo liso, por exemplo. É importante ressaltar também a escolha de fatores como o sexo e a idade, caracterizando a adoção apenas como mecanismo de satisfação pessoal, pautada, sobretudo, na superficialidade das aparências, e não feita como um ato altruísta que, de acordo com o filósofo francês Augusto Comte, visa, principalmente, o bem estar do próximo. Esse egoísmo é percussor não só de um racismo disfarçado, mas também dos baixos índices de adoção tardia, a qual requer maior empenho no processo de adaptação e socialização. Dados que confirmam essa realidade foram divulgados pela revista Carta Capital, a qual afirma que mais de metade das crianças em espera de adoção não são brancas, e pelo Conselho Nacional de Justiça, que aponta que cerca de 70% dos pretendentes não aceitam crianças acima de 3 anos de idade. Ademais, pouco é feito e discutido sobre as origens do abandono, nas quais se encaixam a falta de informações sobre métodos contraceptivos, casos de estupro, o vácuo na educação do país, que diminui as chances de inserção no mercado de trabalho e, com isso, contribui para a instabilidade financeira e incapacidade de se sustentar uma família, entre muitos outros. Logo, um mecanismo eficaz quanto aos desafios da adoção é a conscientização da sociedade sobre eles de forma a quebrar preconceitos e tornar esse ato mais humanizado. Para isso, a principal ferramenta se encontra em palestras, que podem ser ministradas em empresas, por exemplo, por assistentes sociais e profissionais competentes nesse assunto, bem como a criação, pelo Governo Federal, aliado ao Ministério das Comunicações, de campanhas midiáticas que abordem esse tema em escala nacional. Além disso, em um contexto mais amplo, o foco do Governo deve ser nas raízes do problema, ou seja, na educação, segurança e no auxílio à prevenção de gravidez indesejada, por exemplo.