Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, há hoje, no Brasil, menos crianças esperando adoção do que pais em potencial. Os dados, claramente controversos, são resultado de uma seletividade exacerbada por parte dos adotantes, que idealizam aspectos desejáveis num filho, deixando de lado o mais importante deles: o amor sem distinções. O primeiro obstáculo seletivo é a idade da criança. A maioria dos futuros pais não querem um filho com traços de personalidade já desenvolvidos, temendo ingenuamente comportamentos fora do que consideram normal e desobediência. Além disso, a idealização do filho bebê é sutilmente imposta pela sociedade, especialmente através de filmes, novelas e paradigmas antiquados. Neste sentido, a própria mídia pode usar seu poder de formação de opiniões e desmistificar o "mito da criança crescida" por meio de campanhas educativas e produções cinematográficas que mostrem que essa visão é ilusória. O segundo empecilho é a antiga e persistente questão racial. O "choque" social de ter um filho adotivo ainda é muito forte no Brasil, e diferentes cores de pede são indicativos imediatos de que os filhos são adotados. Para piorar a situação, a maioria dessas crianças é negra, pois a maior parte é abandonada por pessoas em estado de pobreza, o que no país - por razões históricas - é quase sinônimo de afrodescendência. O preconceito atrapalha até o amor. Então, crianças cheias de amor para dar são praticamente reduzidas a produtos. A lógica de muitos adotantes leva em consideração aspectos físicos, sendo quase mercadológica. Diante disso, o Estado deve, acima de tudo, promover campanhas públicas de conscientização sobre o tema, que ainda é "tabu" na atual conjuntura social brasileira. O terceiro setor - formado por associações que buscam melhorar a sociedade - pode gerenciar meios de aproximação entre casas de adoção e os futuros pais, criando, por exemplo, eventos que envolvam dinâmicas de integração entre eles, quebrando assim, preconceitos.