Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: O processo adotivo no Brasil: conquistas e desafios

Redação enviada em 21/09/2016

Jorge Amado, com sua visão crítica do Recôncavo Baiano, retratou em sua célebre obra ‘Capitães da Areia’ o cotidiano de meninos abandonados à mercê do destino. Observa-se, no entanto, que essa realidade soa tão atual quanto no livro, evidenciando a contemporaneidade do óbice. Os obstáculos que corroboram para esse fato são principalmente evidenciados nos desafios do processo adotivo, indo da seletividade racial à burocracia judicial. Desse modo, explicita-se a necessidade de reverter os fatores que contribuem para a perpetuação deste cenário. Em uma primeira análise, destaca-se o exponencial número de potenciais adotados negligenciados pelos adotantes por não se encaixarem em perfis preestabelecidos. São milhares as crianças presentes nas filas de espera para adoção e tão grandes quanto são as taxas de casais à procura de filhos. Entretanto, dentre os interessados em adotar existe uma enorme seletividade, principalmente quanto à faixa etária, onde a demanda por bebês menores de um ano é enorme. Todavia, segundo o IBGE, apenas seis por cento encaixam-se nesse perfil. Além disso, há preferência por crianças brancas, deixando pra trás mais da metade dos candidatos à adoção. Contudo, de forma contrária aos pais criteriosos, há aqueles que desejam adotar, mas encontram impedimentos burocráticos: é o caso dos pais homossexuais. O Estatuto da Criança e do Adolescente determina que os adotantes devem ser estabilizados financeiramente e, de preferência, casados. Porém, em se tratando de homoafetivos, a situação é mais delicada, tendo em vista os tabus quanto a isso. De todo modo, é inegável que a probabilidade de o menor receber afeto e educação por pais do mesmo sexo é muito maior do que em lares de adoção. Ademais, de acordo com Freud, a representação de pai e mãe é deveras importante, mas independe do gênero e grau de parentesco do individuo. Por isso, com base no exposto, é necessário que haja mudanças quanto aos geradores do impasse. É plausível que o IBGE, em conjunto com o Conselho Tutelar, apresente pesquisas a respeito do desenvolvimento de crianças adotadas por casais homossexuais, a fim de superar a ignorância dos “achismos”, mostrando se os prós sobressaem-se aos contras. Além disso, é interessante que ONGs pró-adoção divulguem campanhas que enfatizem o quão cruel é esta seletividade, evidenciando que todas as crianças são merecedoras de um lar afetuoso e com carinho. Dessa forma, contribui-se para a formação de um mundo onde o abandono infantil seja cenário apenas de ficção, como sonhou Jorge Amado.