Título da redação:

Brasil poliglota

Tema de redação: O preconceito linguístico no Brasil

Redação enviada em 27/08/2018

Recentemente, em várias redes sociais, propagou-se a imagem de um médico debochando dos erros de português de uma paciente. Com base nisso, em meio a tantas questões em relevo no Brasil, o preconceito linguístico ganha destaque na sociedade, sobretudo em virtude de problemas bastantes presentes no cenário nacional: a discriminação regional e a desigualdade socioeconômica. É fundamental, portanto, analisar as causas desse impasse para propor uma possível intervenção. Sob uma primeira análise, o regionalismo é um potente fator que contribui para o crescimento do preconceito linguístico no território nacional. No livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos – expoente da segunda geração modernista -, são retratados os regionalismos linguísticos das personagens como fruto das condições de pobreza que vivenciavam. Em vista disso, é possível afirmar que as diferentes maneiras de se falar pelo Brasil estão intimamente ligadas às condições de vida dos indivíduos, visto que os cidadãos residentes em áreas interioranas mais carentes, principalmente no Norte e no Nordeste, por se afastarem mais fortemente da norma culta, sofrem uma intensa discriminação pelos que moram em locais mais industrializados e desenvolvidos. Dessa forma, torna-se evidente que esse preconceito está diretamente associado às diferenças regionais, desde dialetos e gírias até sotaques, fato que corrobora a potencialização de outro problema vigente no contexto atual brasileiro: a exclusão social. De outra parte, a desigualdade socioeconômica também coopera para a discriminação perante as diferentes formas de se falar. No final do século XX, o fenômeno da globalização entrou em vigor e tinha a busca pela igualdade social como um dos principais objetivos. Contudo, é perceptível a extrema falha nessa meta, haja vista que a desigualdade ainda persiste como um grande empecilho na conjuntura nacional e, além disso, apresenta reflexos na multiplicidade linguística brasileira. Essa afirmação pode ser explicada pelo fato de os indivíduos dotados de privilégios econômicos, por disporem de um bom acesso à educação e exercerem uma fala mais próxima da linguagem formal, acreditarem que a norma culta é a maneira correta de se falar. Desse modo, os cidadãos de camada mais baixa que possuem um linguajar mais coloquial são humilhados e discriminados pela elite, o que afeta negativamente a dignidade deles e catalisa ainda mais o obstáculo do preconceito linguístico no Brasil Impende, pois, a tomada de medidas para mitigar toda essa problemática, dado que a discriminação sobre as diversas falas atinge penosamente inúmeros brasileiros. O Ministério da Educação, por meio da implementação de debates e palestras nas escolas sobre a heterogeneidade linguística brasileira – regional, social, temporal, entre outras – pelo menos duas vezes por ano letivo, deve educar os cidadãos desde cedo a respeitar os diferentes linguajares e ensiná-los que ninguém fala melhor do que o outro. Essa ação tem como objetivo reduzir, mesmo que gradativamente, o preconceito linguístico no quadro nacional. Com essa medida – que não exclui outras -, poderá ser alcançado um Brasil mais solidário e respeitoso, uma vez que, como foi proferido pelo gramático Bechara, “ o falante deve ser um poliglota da sua própria língua”.