Título da redação:

Aversão ao Provincianismo

Proposta: O preconceito linguístico no Brasil

Redação enviada em 05/09/2018

No livro "Emília no País da Gramática", a boneca Emília, de Monteiro Lobato, ao visitar a prisão onde Dona Sintaxe mantinha enjaulados os "vícios de linguagem", revolta-se ao ver os vícios da fala rural do "caipira" e, posteriormente, liberta-os. Nesse sentido, fora do âmbito literário, as variantes linguísticas no Brasil tornaram-se, regularmente, sinônimas de algo atrasado ou grotesco e que devem ser suprimidas. Dentre os principais motivos para o recrudescimento da intransigência, destacam-se, o papel ortodoxo da escola e a questão socioeconômica. A priori, é notório que as instituições escolares tem papel relevante na intensificação da problemática. Isso decorre, lamentavelmente, devido, muitas vezes, a uma supervalorização da unidade do português no Brasil, como uma língua majoritária e de gramática normativa única, em detrimento da imensa diversidade de normas linguísticas regionais e, por consequência disso, a uma marginalização dos alunos falantes das variedades não-padrão, como discorre o escritor Marcos Bagno na obra "Preconceito Linguístico", em que a gramática regulamentária nas escolas, pode-se tornar autoritária, intolerante e repressiva que impera na ideologia geradora do preconceito linguístico. Logo, é impreterível a criação de mecanismos para a valorização e reconhecimento da variabilidade da língua, dentro da sala de aula. Outrossim, nota-se, ainda, que a posição na hierarquia socioeconômica pode fortalecer a chaga social. Isso acontece, infelizmente, porque frequentemente, em vários espaços sociais, não há um respeito perante as diferenças linguísticas no território nacional, sobretudo com pessoas de classes sociais baixas da Região Nordeste, estas são retratadas, sistematicamente, nas novelas de televisão, sem exceção, de forma pejorativa e criadas para provocar risos e escárnio dos demais personagens e espectadores. Tal situação ratifica a concepção do físico contemporâneo Albert Einstein, na qual é mais fácil desintegrar um átomo em partículas subatômicas do que um preconceito enraizado. Dessa forma, é imperioso a elaboração de instrumentos para o embate da estrutura preconceituosa linguística que permeia, silenciosamente, a sociedade brasileira. Infere-se, portanto, que a adoção de medidas para mitigar a epidemia social torna-se imprescindível. Faz-se necessário que as Secretárias de Estado de Educação, em consonância com as escolas, acrescente nas grades curriculares do Ensino Fundamental e Médio matérias que primam o reconhecimento e enaltecimento da pluralidade do idioma, como Linguística Antropológica e Sociolinguística, como a finalidade de reduzir o isolamento dos falantes com marcas regionalistas. Ademais, o Ministério da Educação, em parceria com as mídias sociais, deve criar uma campanha, direcionada ao público em geral, que paute fundamentalmente na conscientização e desconstrução da intolerância, com o escopo de valorizar as vicissitudes particulares das variedades linguísticas locais. Somente assim, o Brasil poderá se orgulhar da sua descomunal riqueza de sotaques, regionalismo, gírias e dialetos que constituem a identidade nacional.