Em “Vidas Secas”, obra de Graciliano Ramos, Fabiano é um típico vaqueiro do sertão nordestino. Devido a sua baixa escolaridade, não possui dom com as palavras, e acaba sendo manipulado por seu patrão. Atualmente, tal fenômeno ainda persiste, evidenciado não só pela marginalização dos não falantes do português formal, mas também pelo uso da língua a partir de interesses políticos e falta de representatividade. Podemos perceber que, aqueles que constituem os marginalizados são grupos de classes sociais mais baixas, normalmente com o nível de escolaridade inferior. Isso reflete diretamente no modo de falar, marcado por erros gramaticais e excessivo uso de gírias. O sotaque carregado é também motivo de discriminação, visto que os do Centro-Sul do país são tidos como mais “corretos”. Além disso, a língua também é utilizada com fins de manipulação, principalmente no meio político. Tendo em vista a precariedade do sistema brasileiro de educação, muitos textos jurídicos são redigidos com jargões específicos. Desta maneira, os cidadãos são submetidos a leis que não entendem, descartando então a hipótese de questionamento. Vale também ressaltar o papel fundamental das mídias nesse tema. A televisão está muito presente no cotidiano da maioria dos brasileiros, no entanto, não abrange a diversidade de todo o país que lhes assiste e, quando o faz, ocorre a ridicularização de sotaques e regionalismos de regiões como Nordeste e Norte. Há também a retratação desses cidadãos com estereótipos e submissão a cargos profissionais desvalorizados. Dessa forma, torna-se necessária a expansão das discussões acerca desse tema. O Ministério da Educação deve criar modelos de conscientização durante o processo educacional, retratando a variabilidade linguística em livros com linguagem popular. Somado a isso, deve-se criminalizar a prática de preconceito linguístico, uma vez que, de acordo com a Constituição, é crime a ridicularização de um indivíduo. Logo, cria-se um ambiente mais seguro e tolerante para todos aqueles que o habitam.