Título da redação:

Entre bisturis e anestesias

Tema de redação: O parto como questão de saúde pública no Brasil.

Redação enviada em 19/08/2015

O Projeto Nascer no Brasil afirma que 70% das brasileiras desejam parto normal no início da gravidez. Porém, essa aspiração é modificada durante o pré-natal, seja por influência médica ou por receio do procedimento natural. Assim, com o aumento nos índices cirúrgicos, a desnaturalização dos partos torna-se um fenômeno que afeta diretamente os serviços hospitalares e a qualidade de vida população, não só no Brasil, como no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS, o Brasil é campeão em realização de cesarianas, com um percentual que gira em torno de 52%, enquanto o recomendado é somente 15%. É válido salientar que, o parto clínico é de extrema importância para a medicina, mas quando realizado de forma epidêmica, o retorno não é positivo. Apesar da comodidade oferecida pelo pré-agendamento, tanto para os hospitais quanto para as mulheres, e a rapidez do procedimento, o risco de nascimento prematuro é frequente e as possíveis sequelas cirúrgicas são de alta gravidade, como cicatrizes externas e internas. O parto normal, por sua vez, apesar de requerer maior responsabilidade e preparo profissional, aproxima-se, de fato, de um atendimento humanizado. Entretanto, seu desuso justifica-se, entre outro fatores, pela má formação de profissionais. De acordo com o Ministério da Saúde: "Milhares de estudantes se formam sem terem feito sequer um parto normal." Assim, conservam-se métodos cada vez mais intervencionistas, fortalecendo o tabu que relaciona o parto normal com violência obstétrica. Porém, a adequação ao andamento do próprio evento fisiológico, respeitado no parto natural, ratifica o ideal do nascimento saudável e diminui a gravidade do processo. Torna-se evidente, portanto, que a eventual desconfiança das mulheres com relação ao parto deve ser desconstruída. A exemplo dos EUA, onde o método cesáreo é utilizado exclusivamente em casos de emergência, o governo deve intensificar campanhas em prol da naturalização do nascimento. A estratégia do partograma deve ser efetivado em todos os hospitais. Como disse Michel Odent: "Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer." Desse modo, apoiados em uma política de fiscalização e conscientização, conseguiremos fazer com que o parto faça jus à definição que o classifica como "o oposto da morte".