Título da redação:

A humanização do parto

Tema de redação: O parto como questão de saúde pública no Brasil.

Redação enviada em 24/04/2016

Desde meados do século XVI o parto cesariano vem sendo aprimorado para se tornar uma intervenção cirúrgica em gestações de risco. Contudo, observa-se nos últimos trinta anos no Brasil que esse vem sendo usado em muitos casos em que não havia necessidade por não serem arriscados, demonstrando uma desconstrução da natureza do evento, que vem acarretando uma série de consequências negativas que a saúde pública do Brasil não pode tolerar. A taxa de cesárias no Brasil já é a maior do mundo, muito além do que é considerado como normal pela OMS (Organização Mundial da Saúde), sendo cerca de 40% na rede pública de saúde. E isso é um problema pois a cesariana é vista mundialmente como um caso de emergência e não de norma, pelo motivo dela ocasionar cerca de dez vezes mais complicações tanto para a mãe quanto para o filho, havendo um número de mortes por este tipo de procedimento muito maior do que pelo parto normal entre brasileiras – o que contraria, inclusive, o sentido inicial do procedimento, que era o de evitar fatalidades. Mesmo estas informações sendo fatos, não é visto uma grande preocupação por parte das gestantes na hora de escolher como ela deseja proceder quando chegar o momento, colocando também outras consequências – como a diferencial interferência na “cascata” de hormônios em relação a que ocorre após o parto vaginal, causando, por exemplo, a demora na apojadura - em segundo plano, tudo a fim de uma comodidade requerida pela médico e para não enfrentar a dor que se é pensado ter no parto normal. O culto ao médico no Brasil é em parte também responsável por esta situação. Indiscutivelmente o médico é mais respeitado e confiado do que uma equipe de profissionais de saúde não médicos, como enfermeiros obstetras e obstetrizes (popularmente denominadas de “parteiras”), que podem realizar também o acompanhamento pré-natal e realizar nascimentos, mas que são muito menos requeridos do que médicos. Entra na história, portanto, o sistema de saúde, que não diferencia substancialmente em pagamento os dois tipos de partos, sendo que o parto normal leva em média doze horas e a cesárea entre uma e duas horas. Como há uma demanda por parte das gestantes que o médico que realizou seu acompanhamento durante a gravidez também realize o parimento, ao invés do profissional que está de plantão, aquele geralmente se dá via cesárea por motivos do médico não poder ou não querer realizar um procedimento tão longo, agendando-o para quando o for conveniente (o que não é também natural e nem recomendável pela OMS). Depreende-se, portanto, que medidas são necessárias para reverter este quadro. O Ministério da Saúde já realiza, em pequena escala, incentivos ao parto normal, mas é necessário que se universalize esse para toda a saúde pública: fazendo advertências não só em hospitais, como também em veículos de comunicação de massa, dos perigos da cesárea e das vantagens do parto natural, bem como da preparação de equipes de saúde especializados nisso que sejam de confiança. Assim, com a participação ainda do ativismo feminista, este evento único poder-se-á tornar-se também mais humano.