Título da redação:

Em prol da igualdade: uma luta ainda possível

Tema de redação: O ensino da história e cultura africana no Brasil: conquistas e desafios

Redação enviada em 05/07/2016

O Brasil é, sem dúvida, um país policultural, originado da mistura das mais variadas culturas e etnias. Contudo, mesmo o povo africano sendo um dos mais importantes formadores da atual sociedade, sua importância não parece ser valorizada em muitas escolas do país, que deixam a África em segundo plano. A importância do estudo da história e da cultura desse continente é, portanto, muito valiosa em um contexto de formação educacional e moral de jovens, visando-se um futuro em que a igualdade não seja uma utopia. Foram três séculos de escravidão e dois séculos de preconceitos. Uma herança cultural difícil de ser desconstruída, o que torna imperioso lutar-se, ainda, contra o racismo e a discriminação cultural que se mostra hoje nas entrelinhas, implícita e permeada na sociedade brasileira. Cita-se, constantemente, que o Brasil teria uma vocação à diversidade. Errôneo. Nesse específico contexto, a apreciação da diversidade surge mais como uma dívida do país, pois, a miscigenação é engrandecida quando embranquece o tom de pele, o que não ocorre quando escurece. Isso fica claro, por exemplo, na obra “Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães, em que a escrava mestiça incorpora do estereótipo da beleza europeia, e são esses os aspectos valorizados. Dessarte, torna-se imprescindível tratar dos africanos na sua singularidade, não comparando-o com europeu, mas sim demonstrando que sua importância para a gênese do “ser brasileiro” é tão importante quanto a de outros povos que aqui habitaram. Passados 13 anos do decreto que institucionalizou o estudo do tema em questão nas escolas, observa-se que houve conquistas principalmente em dois âmbitos, o dos livros escolares e dos vestibulares. Isto é, nota-se, de forma geral, que os livros didáticos abordam mais esse assunto do que em outrora, e que os vestibulares vem cobrando, cada vez mais, questões sobre o assunto, induzindo as escolas a o ensinarem. Em contrapartida, são inúmeros os desafios que ainda terão de ser enfrentados. Dentre eles, sobressai-se o estigma xenófobo que as culturas e, sobretudo, as religiões e mitos de matrizes africanas, apresentam para parcela da população, o que está muitas vezes atrelado a um ortodoxismo católico ou evangélico. Dessa forma, a laicidade do Estado deve ser respeitada nas duas vias, ou seja, tanto as religiões africanas não devem ser doutrinadas e sim passadas como uma manifestação cultural, quanto as demais religiões não podem interferir no que é dado pela escola por irem contra a sua concepção de mundo e espiritualidade. Depreende-se, portanto, que medidas são necessárias para resolver o impasse. Segundo o filósofo Immanuel Kant, “o ser humano é o que a educação faz dele”, e, assim, um posicionamento mais contundente por parte do Ministério da Educação é requerido para se impor o que já é previsto por lei, desde os primeiros anos escolares, a fim de se construir uma nação mais unida e menos preconceituosa. É necessário que se induza o estudo não do “escravo negro”, mas sim do africano que foi escravizado, tanto ele no período anterior quanto posterior ao regime escravista, dando-o limites mais humanos e individuais, bem como tirando-se a preconcepção da África como uma única região, quando na verdade são um emaranhado de povos de rica cultura, que tanta contribuíram para a cultura e história brasileira.