Título da redação:

Conhece-se o filho pela mãe

Proposta: O ensino da história e cultura africana no Brasil: conquistas e desafios

Redação enviada em 01/10/2016

O Brasil é um país formado a partir de intensas influências africanas, que entraram em território brasileiro por meio da colonização portuguesa, criando uma miscigenação cultural e étnica que se tornou a principal marca nacional. Devido a isso, o conhecimento da história da África deve ser visto como um dos pilares para a construção da identidade cultural e social brasileiras. Argumentos que comprovam este ponto de vista são a presença da africanidade em todas as matrizes da sociedade brasileira e a convergência histórica desses dois povos. Em relação ao primeiro argumento, é muito nítido notar a presença de elementos africanos na composição da matriz genética brasileira, que revela que todo cidadão brasileiro tem uma percentagem africana em seu DNA; da matriz populacional, que mostra que mais de 50% da população é negra; da matriz cultural, que apresenta ritmos, danças e músicas derivadas da cultura africana; e da matriz religiosa, que traz aspectos da religiosidade africana fundidos ao catolicismo, originando o sincretismo religioso típico do Brasil, e fazendo emergir aqui novas religiões, como a umbanda e o candomblé, que existem até hoje. Tudo isso mostra o quanto Brasil e África formam uma mistura de ingredientes tão miscíveis quanto inseparáveis, nos mais diversos sentidos. Seguindo essa lógica, abre-se espaço para a reflexão do quanto a história do povo africano converge com a construção da nação brasileira. E é justamente sobre isso que trata o segundo argumento apresentado, uma vez que o Brasil recebeu imensos contingentes de africanos durante séculos, e por meio de sua escravização maciça, construiu a lucrativa economia colonial, baseada na cana de açúcar, que alimentava a ambição da metrópole portuguesa, abastecia os mercados europeus e enriquecia os parceiros comerciais de Portugal, a exemplo da Inglaterra, que posteriormente, teve capital suficiente para executar sua revolução industrial. Mas, quem irá mencionar que todo esse capital veio do trabalho do negro? Mas, voltando o foco ao Brasil, o fato é que toda a retrospectiva histórica do país perpassa, em alguma medida, pela presença dos africanos na sociedade brasileira, pela intensa luta dos negros pelos seus direitos, pelos movimentos de resistência e manifestações culturais desse povo. Em outras palavras, o que se pode afirmar é que a história do Brasil se banha no suor dos negros que construíram essa nação, e se revela, irrefutavelmente, impregnada de África. Com tudo isso, ratifica-se a tese de que a consolidação da identidade cultural brasileira demanda um conhecimento maior da história da África. Nesse sentido, houve uma conquista parcial, que foi a elaboração da lei que prevê a obrigatoriedade do ensino da história africana no currículo escolar. Porém, como essa lei ainda não é obedecida, esse descumprimento se mostra como o principal desafio a ser enfrentado nessa questão. Para tanto, uma intervenção imediata deve ser feita, tendo como agente o Ministério da Cultura e Educação, que deve fazer ser cumprida a referida lei, proposta em 2003. O Ministério deve fazer isso por meio de uma emenda complementar àquela lei, que ratifique o seu cumprimento compulsório por parte de toda a rede de ensino, e ainda estabeleça prazos para adequação das grades escolares e multas para as instituições de ensino que venham a descumprir a regra. A finalidade dessa medida é, finalmente, estabelecer o conhecimento do continente do qual o Brasil mais absorveu influências, e permitir que as gerações futuras não só entendam, mas também respeitem, as relações que fazem com que esses dois países, separados por diferentes continentes, possuam raízes tão profundamente entrelaçadas.