Entre os séculos XVI e XIX, o Brasil foi destino de aproximadamente 4 milhões de pessoas que foram espoliadas de suas pátrias para se tornarem escravas. Nesse processo, houve uma sistemática desumanização desses povos, a fim de legitimar a escravidão. Sob esse aspecto, o ensino da História e cultura africana no currículo brasileiro foi um passo importante para romper paradigmas sobre o continente africano e possibilitar a valorização da identidade negra no país. A percepção equivocada da África como um monólito étnico, demonstra o desconhecimento acerca da imensa diversidade cultural, geográfica e social de seus 54 países. Nesse sentido, a abordagem multidisciplinar nas escolas traz para o cotidiano do aluno um diálogo mais honesto e plural sobre o continente, desmistificando a visão limitada associada ao subdesenvolvimento, epidemias e incapacidade de protagonismo. Somado a isso, os anos de escravidão em solo brasileiro desencadeou a aculturação. No entanto, a contribuição africana para a cultura nacional foi, inúmeras vezes, relegada e marginalizada. Em decorrência, há a dificuldade por parte da população negra em reconhecer sua ancestralidade e criar laços de pertencimento dentro da sociedade. Desse modo, o acesso ao ensino amplo de suas origens resgata elementos de significação e permite outros matizes à construção de si enquanto indivíduo e como parte do coletivo. Conforme a escritora nigeriana Chimamanda Ngozí – há muitos perigos em se contar uma única História. Dessa maneira, a implementação na matriz educacional brasileira de uma visão holística da África auxilia a desconstrução de estereótipos e preconceitos. Apesar dos avanços nesse sentido, as práticas educacionais devem ir além de uma obrigatoriedade na grade escolar. O ministério da educação deve disponibilizar obras de intelectuais das diversas nacionalidades africanas, com o objetivo de apresentar as facetas e riqueza do conhecimento produzido no continente. Além disso, é imprescindível que as escolas promovam eventos culturais e literários temáticos, para que o legado e multiplicidade da África sejam nítidos a todos.