Título da redação:

A história não tem cor

Tema de redação: O ensino da história e cultura africana no Brasil: conquistas e desafios

Redação enviada em 23/09/2016

A divisão das etnias constituintes da população brasileira baseia-se tradicionalmente nas figuras do índio, do negro e do branco. Em contrapartida, nos ambientes escolares, a história do Brasil permeia majoritariamente a trajetória dos europeus na América. Nesse sentido, uma lei promulgada em 2003 tornou o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira obrigatório. Assim, com o objetivo de contribuir para a afirmação da identidade negra e para o fim do preconceito racial, com ligeiros avanços, a efetivação dessa lei ainda depara-se com impasses intrinsecamente ligados à realidade do país, seja pela herança colonial, seja pela falta de preparação dos docentes. É indubitável que heranças coloniais ainda façam parte do cotidiano. Desse modo, foi criada uma visão do negro reduzida a estereótipos. Nota-se na produção historiográfica do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) – fundado em 1838 por Dom Pedro II- um desprezo pela contribuição do negro como agente social. Ao longo do tempo, principalmente durante o século XIX, muitos dos pesquisadores da identidade nacional, engajados em teorias como o Positivismo e o Darwinismo Social, julgaram essa etnia como uma “raça” inferior. Somente na primeira metade do século XX, uma discussão mais ampla acerca da contribuição desses povos ganhou moldes mais humanitários. Nesse viés, Gilberto Freyre lançou sua obra “Casa Grande e Senzala’’ ressaltando a miscigenação como positiva e a base de uma democracia racial. Outrossim, nas salas de aula vive-se algumas conquistas e desafios. Muitos alunos negros, ao se depararem com a inserção da história da África ressaltando seus ancestrais, sentem-se mais prestigiados. Além disso, no campo literário, a adoção de um livro moçambicano à lista da FUVEST, um dos vestibulares mais concorridos do Brasil, contribuí para esse avanço. Em contrapartida, a escassez de fontes históricas para abordar o tema e a despreparação de muitos docentes leva a um ensino somente da cultura africana – como danças e músicas- deixando a história em si de lado. Entende-se, portanto, que o ensino da cultura e história africana perpassa árduos caminhos para efetivar-se completamente. A fim de acelerar o processo e promover o firmamento da identidade negra, cabe às instituições educativas uma capacitação de seus profissionais na abordagem do tema. Ademais, o Ministério da Educação em parceria com universidades deve estimular maior pesquisa na construção de materiais didáticos melhores e fiscalizar escolas. Por fim, mais que um avanço educacional, o projeto constitui-se como um avanço democrático. Nessa linha de pensamento, Bob Marley deixa a reflexão: “Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra”.