Título da redação:

Redação sem título.

Tema de redação: O discurso de ódio nas redes sociais e seus fatores impulsionadores

Redação enviada em 01/10/2018

Defendido por Voltaire, o postulado iluminista da liberdade de expressão constitui-se como primado básico para uma sociedade mais igualitária. Hodiernamente, entretanto, a ascensão de discursos de ódio, que se propagam com auxílio da tecnologia, faz com que países como o Brasil distorçam o aforismo voltairiano. Nessa perspectiva, importa a discussão pela coletividade sobre os fatores impulsionadores dessa prática repugnante, quais sejam o aparente anonimato proporcionado pela rede social e a apatia conjuntural da pós-modernidade. É elementar que se leve em consideração, primeiramente, a relativa permissividade fornecida pelo anonimato como impulsionadora da problemática. Nesse sentido, em resposta à repressão promovida pela Ditadura Civil Militar no Estado brasileiro por mais de duas décadas, a edição da Carta Magna de 1988, de viés ideológico oposto e com mecanismos que exaltam o livre pensamento, camuflou as fronteiras entre a autonomia do sujeito e o discurso transgressor, reflexo da resistência social ao cerceamento ideológico desde a redemocratização. Nesse tangente, a norma supralegal expõe, em contrapartida, a vedação ao anonimato, não obstante, nas redes sociais, tal dispositivo encontra um terreno de difícil fixação, dada a possibilidade de ocultação da real identidade do propagador de discursos preconceituosos, a qual, somada à intolerância que permeia o círculo social, cultiva o substrato para a violência virtual. Evidencia-se, por conseguinte, a urgência no esclarecimento dos internautas sobre as implicações de atos criminalísticos, como a propagação do ódio nas redes, e a diferença entre opinião e infração de preceitos constitucionais. Faz-se mister, também, salientar a falta de empatia do indivíduo contemporâneo como causa direta da verborragia odiosa na internet. Nesse ímpeto, ao buscar a explicação dessa característica humana pós-moderna, é fulcral relembrar da obra do sociólogo Zygmunt Bauman chamada “Modernidade Líquida”, definidora do sujeito como apático e incapaz de assumir a posição do outro no corpo coletivo - ausência de alteridade. Diante dessa capacidade de isolar-se emotivamente do semelhante, insufla-se no território brasileiro a prática violenta de discriminação ao próximo, potencializada no ciberespaço. Com efeito, a permanência do discurso agressivo nas redes sociais vai de encontro ao multiculturalismo nacional, uma vez que não passa de hipocrisia social a agressão ao diferente, tendo em vista que o brasileiro é produto da interação do diverso, logo, tal atitude deve ser combatida imediatamente. São necessárias, por fim, medidas que amenizem esse cenário de descompasso entre o espaço democrático e a usurpação da dignidade dos indivíduos vitimados pelo discurso virtual criminoso. Assim sendo, impende que o Congresso Nacional edite nova lei, com maior rigor, exigindo a ampliação da corresponsabilidade das redes sociais que operam no Brasil, ao obrigá-las a veicular mensagens que alertem tanto sobre as possíveis punições que o Estado poderá aplicar em caso de propagação de ódio virtual quanto a diferença, aparentemente dissoluta, entre livre expressão e violação dos direitos assegurados pela Carta Maior. Feito isso, além de reduzir tal prática nefasta, o país poderá deixar a realidade das sombras e guiar-se pelas luzes da razão e do respeito defendidas por Voltaire.