A ascensão de Getúlio Vargas à presidência da República, na década de 30 do século passado, trouxe consigo importantes instrumentos de combate à exploração de grupos sociais historicamente fragilizados, como as crianças brasileiras. Foi durante a Era Vargas que o Poder público passou a coibir, de forma mais incisiva, o trabalho infantil nas fábricas que se multiplicavam no sul do país. Na atualidade, porém, estatísticas demostram que as crianças brasileiras ainda são vítimas de exploração por adultos, através de uma forma ainda mais violenta do que a praticada 80 anos atrás: a pedofilia. De acordo com o sociólogo polonês Zigmund Bauman, na atualidade impera entre os seres humanos o fenômeno denominado "relações líquidas", caracterizado pela simplificação das relações sociais entre os indivíduos. Atualmente, através de redes sociais como o Facebook e o Instagram, é possível que duas pessoas, mesmo sem terem tido qualquer contato físico prévio, comuniquem-se diariamente. Nesse contexto, o enfraquecimento das relações sociais entre os indivíduos permite que criminosos, muitas vezes disfarçados, entrem em contato com crianças a fim de ludibriá-las, aproveitando-se de sua baixa capacidade de discernimento da realidade. Ademais, o atual código penal e processual brasileiro, promulgado na década de 1930 pelo governo de Getúlio Vargas, não oferece os instrumentos necessários para que a polícia atue com a celeridade exigida pelo mundo virtual. Segundo pesquisa divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, 57% dos acusados de pedofilia já haviam sido acusados anteriormente da mesma prática delituosa, entretanto, não foram devidamente processados e condenados. Em decorrência disso, há a prevalência da impunidade, que estimula indivíduos a continuar na prática delituosa. Conforme canta Mílton Santos, “nada será como antes, amanhã”. E para que nesse amanhã as crianças brasileiras sejam devidamente respeitadas, medidas necessitam ser tomadas. Ao Ministério da Educação, cabe incluir na base curricular nacional o tema das relações pessoais na internet, a fim de que debates sejam realizados nas escolas, buscando orientar as crianças quanto aos perigos presentes nas redes sociais. Paralelamente, o Congresso Nacional deve modificar o código penal e processual penal, de modo a adequá-lo aos crimes cibernéticos, para que criminosos sejam processados e condenados. Dessa forma, no amanhã do Brasil, nossas crianças estarão devidamente resguardadas da nefasta prática da pedofilia.