Quando o governo uruguaio sancionou a legalização da maconha, o Brasil passou a discutir ainda mais essa possibilidade. Contudo, o Estado vem demonstrando-se reticente quanto a esse tema. Isso decorre de um conservadorismo e tem reflexo na política de encarceramento. Em primeiro lugar, destaca-se o caráter tradicional e dogmático da sociedade brasileira. Tal situação ocorre porque, segundo o Censo de 2010, a maior parte dos brasileiros é cristã, manifestação religiosa que coíbe o uso de drogas. A contradição, no entanto, é que o cigarro e o álcool são liberados ­­­­­­­- tendo esse último, inclusive, campanhas regulares de incentivo ao consumo. Assim, percebe-se que há uma certa hipocrisia social ao debater sobre a questão. Como consequência, a Lei de Drogas, aprovada em 2006, promoveu um aumento na prisão de simples usuários. Diante disso, um fator importante a ser analisado é que 60% dos presos do país são homens negros, de acordo com o coletivo Periferia em Movimento. Ademais, um dos principais motivos é o envolvimento com as drogas. Dessa maneira, uma vez que diversos famosos, a exemplo da atriz Cléo Pires, já relataram o uso de entorpecentes e nada aconteceu, denota-se claramente uma ação racista e seletiva. Compreende-se, portanto, a necessidade da descriminalização do porte de narcóticos como forma de diminuir o encarceramento em massa da juventude negra. Além disso, é fundamental a existência de diálogos nas escolas e associações de moradores, promovidos pelos governos municipais, a respeito das consequências da utilização de substâncias lícitas e ilícitas, alertando sobre seus malefícios, mas também desmistificando-as. Dessa forma, poder-se-á viabilizar uma discussão mais profunda e livre de preconceitos sobre a legalização da maconha e de outros químicos.