O tráfico de animais silvestres é uma prática criminosa, porém comum, no Brasil. Na maioria dos casos, a captura e a venda de diversos espécimes animais está diretamente atrelada à presença de comunidades pobres que, negligenciadas pelo Estado, encontram nesta categoria de crime uma forma fácil de obtenção de recursos para suprir suas necessidades básicas. Além disso, o desconhecimento dessas pessoas acerca dos impactos do delito, bem como a certeza da impunidade, incentivam um número crescente de pessoas a se envolverem num esquema que, aos poucos, está destruindo uma das maiores riquezas da nação: a biodiversidade. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil, país de proporções continentais, abriga cerca de 20% de todas as espécies de seres vivos do planeta, o que confere à nação o primeiro lugar no ranking dos países considerados megadiversos. Porém, ao invés de sustentar as melhores estratégias de proteção à natureza, o país segue na contramão da lógica e permite que o tráfico de animais silvestres seja o terceiro maior mercado de contrabando nacional. Conforme estatísticas da Polícia Federal, o tráfico de animais silvestres no Brasil perde apenas para o contrabando de armas e o de drogas. Em parte, o problema é sustentado pela pobreza que assola comunidades carentes que residem nas proximidades de florestas e áreas de preservação. Dessa forma, devido à falta de oportunidades de trabalho e do aliciamento de contrabandistas internacionais, muitos moradores locais tiram proveito do conhecimento que têm acerca da região para capturar e vender animais exóticos, cobiçados no mercado negro internacional. Entretanto, a face mais preocupante do problema reside na existência de uma legislação deficiente, com inúmeras brechas, que acaba permitindo a impunidade dos envolvidos e o fortalecimento da prática do tráfico de animais no país. Segundo dados do IBAMA, as penas aplicadas tanto para uma pessoa que seja flagrada com um quanto para aquelas que estejam traficando grandes quantidade de animais exóticos, são as mesmas - o que naturalmente leva ao descrédito e à ineficiência da legislação vigente. Ademais, relatos do RENCTAS denunciam que muitos agentes que trabalham como executores dessas leis nem sempre consideram o tráfico de animais silvestres um crime grave, e tampouco se comovem com as péssimas condições às quais esses seres são submetidos durante o processo, piorando consideravelmente a situação. Consequentemente, o somatório desses aspectos fragiliza os processos de combate ao tráfico e ao comércio ilegal de animais, favorecendo a consolidação da prática no Brasil. Isto posto, para vencer o desafio do tráfico de animais e assim preservar o patrimônio biológico da nação, caberá ao Poder Legislativo, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e representantes de instituições não governamentais favoráveis à proteção da vida selvagem, adequar as leis de proteção à natureza de acordo com a realidade nacional, possibilitando, assim, o fortalecimento das medidas para o combate ao tráfico de animais. A coalizão deverá, também, promover campanhas de informação e conscientização contra o tráfico de animais junto às comunidades mais afetadas pelo problema, ministrando palestras e distribuindo material educativo, reforçando junto aos cidadãos a gravidade dos danos causados pelo tráfico de animais silvestres, bem como a importância das ações para a preservação da biodiversidade.