Título da redação:

Última chance

Tema de redação: O cenário de redemocratização em construção no Brasil

Redação enviada em 21/09/2016

Quando foi concebida, na Grécia antiga, a política era uma forma de organização das cidades, que participavam todos os cidadãos. Com o tempo, essa atividade foi-se complexificando, com numerosas instituições e rituais de poder. Hoje, o seu papel tem sido questionado por uma sociedade que, não se vendo representada, passa a desacreditá-la em todos os sentidos. Quem quiser compreender – e modificar – esse deverá analisar a influência dos políticos, da sociedade e do próprio sistema representativo. Em primeiro lugar, os representantes da sociedade parecem ter grande responsabilidade pela insatisfação coletiva. No Brasil, como no resto do mundo, escândalos de corrupção se sucedem sem punição. Em sua origem, mais do que a simples ganância está uma postura elitista e descompromissada com a sociedade. Isso talvez explique as promessas que não são cumpridas e os abusos de poder tão frequentes desses que deveriam dar o maior exemplo. Culpar os políticos, no entanto, significa culpar a própria sociedade. Sem dúvida, se consideramos que, nas democracias – regime predominante hoje –, os eleitores têm o poder de alterar os quadros de poder, a má atuação dos políticos é responsabilidade de todos. Se não fazemos, demonstramos uma postura alienada, cuja base está no individualismo contemporâneo. Afinal, para os problemas imediatos, as soluções coletivas não parecem ser as melhores. Nessa perspectiva, a descrença na política é a desvalorização da sociedade por ela mesma. Para agravar a situação, ainda que políticos e eleitores fossem mais engajados, o descrédito permaneceria. Isso porque o próprio sistema apresenta falhas estruturais de difícil modificação. De um lado, a lentidão burocrática da democracia torna as ações do Governo ineficazes. De outro, problemas complexos como o tráfico de drogas e a miséria têm tantos fatores envolvidos, que qualquer solução deixa muito a desejar. Diante de tal panorama, torna-se evidente que a descrença na política não constitui apenas um problema circunstancial. Trata-se a rigor, do sintoma de algo muito grave: a indiferença do homem com ele mesmo. Quando a política se torna motivo de piada e sinônimo de impotência, é a sociedade quem mais perde. Resta saber se queremos voltar ao passado e recuperar o sentido grego dessa atividade ou preferimos esse retorno passivo a uma espécie de pré-história. Talvez ainda tenhamos escolha.