Heráclito de Éfeso dizia que ‘um homem nunca pode banhar-se duas vezes no mesmo rio’. O filósofo grego indicava que tanto o homem, quanto o rio, estão em constante modificação. Assim é o processo de construção da redemocratização no Brasil, que teve início em meados da década de 80 do século passado, quando a população, influenciada por artistas e movimentos sindicais, se engajou no pedido de eleições diretas e fim da ditadura militar. Embora o movimento “Diretas Já” não tenha atingido o objetivo de eleições diretas para presidente, uma vez que um novo presidente foi escolhido pelo colégio eleitoral formado principalmente por deputados federais e senadores, indiscutivelmente abriu-se espaço para a redemocratização do Brasil. Enganavam-se, no entanto, aqueles que entendiam que o processo de redemocratização seria rápido. Já se vão mais de 30 anos do início desse período e o Brasil, embora tenha alcançado avanços significativos na construção de uma sociedade democrata, ainda tem bastante espaço para percorrer. Prova de que vivemos em um país onde a democracia e a liberdade de expressão são exercitadas diariamente, são as constantes críticas que são feitas aos governantes em todas esferas: municipal, distrital, estadual e federal, por pessoas comuns, artistas e jornalistas. Embora alvo de descontentamento e arroubos de tentativas de censurar tais críticas, podemos dizer que elas são rapidamente barradas pelo poder público e pela mídia. Mídia essa que também, diferente do que ocorre em outros país latino-americanos como a Venezuela bolivariana, pode no Brasil exercer seu papel informativo, de denúncia, e de fiscalização. O Ministério Público também vem exercendo corretamente seu papel na investigação de crimes de corrupção e de uso indevido da máquina pública. “Nunca antes na história desse país”, parafraseando o bordão do ex-presidente Lula, tantos casos de corrupção vêem à tona, são investigados, e políticos e empresários são penalizados. Sintomas da caminhada da sociedade brasileira no correto rumo da redemocratização. Essa caminhada, no entanto, é longa e constante. Discutir os acontecimentos cotidianos, da sociedade e da política é fundamental para mantermos os direitos adquiridos ao longo desse processo democrático e para alcançarmos um ideal utópico de sociedade em que o povo seja de fato agente e senhor da gestão do poder político. Que estejamos prontos para tomar incontáveis banhos no rio da redemocratização.