Título da redação:

O grande passeio pela terceira margem

Tema de redação: O aumento da expectativa de vida como desafio no Brasil

Redação enviada em 11/06/2017

Acompanhando-se o percurso artístico e literário desde a Antiguidade, percebe-se a inevitável ligação entre a produção escrita e a historiografia, uma vez que, uma caracteriza a outra. No período medieval, por causa da peste e da fome, pessoas magras eram marginalizadas, o que para a época significava a possibilidade – mesmo que mínima – de aumento da expectativa de vida. Por outro lado, a Idade Moderna, à posteriori das Guerras Mundiais, com o avanço da medicina, viu a expectativa de vida mundial crescer exponencialmente, o que foi sentido no Novo Mundo tão somente a partir da década de 1950. Todavia, analisar os impactos negativos desse crescimento é necessário, principalmente no que tange às relações interpessoais e a garantia de independência financeira. Nessa conjectura, percebe-se que a sociedade brasileira – em parte - associa a figura do idoso a conflitos existenciais, o que implica em agressões, sejam elas físicas ou psicológicas. À vista disso, em seu conto A terceira margem do rio, Guimarães Rosa busca, através do rio, desconstruir o estigma da morte, mostrando a continuidade da vida através do movimento contínuo da água, bem como sua travessia em margem exclusiva; esta, deve ser realizada por todos, pois é inerente. Isso mostra o motivo pelo qual familiares buscam casas de internações geriátricas para seus idosos, o que acarreta – explicitamente – em problemas psicológicos, decorrentes primacialmente do isolamento social e desaconchego familiar. Além disso, casos de agressões físicas dirigidas aos sexagenários persistem a acontecer veladamente, tanto por restrições alimentares e inadequação higiênica, quanto por humilhações públicas. Nesse aspecto, pode-se inferir ainda que a questão previdenciária – ou melhor, sua garantia – figura entre as principais aspirações e, também preocupações dos idosos brasileiros. Assim sendo, Clarice Lispector, em seu conto O grande Passeio, retrata o caminho de Mocinha, idosa que perdeu o marido e os filhos, e que busca na solidariedade humana não só o conforto de um lar como também a possibilidade de um recomeço; um retrato “palpável” da realidade atual. Isso explica a clara necessidade de garantir conforto aos idosos por intermédio da previdência social, o que viabilizaria a independência financeira, fazendo com que os idosos de hoje e os de amanhã tenham assegurados, pela Magna Carta, seus direitos sociais. Talvez assim Mocinha não precisaria estar sempre alheia para outras famílias. Frente ao exposto, entraves relacionados a não aceitação dos idosos, assim como problemas de cunho previdenciário devem ser combatidos, o que só será possível com ação conjunta, paulatinamente, de agentes sociais. É necessário, portanto, que o Ministério da Educação, em parceria com as Secretarias Estaduais de Educação, produza e distribua, em escolas públicas e privadas, revistas e histórias em quadrinhos que mostrem a importância do idoso para o seio familiar e do respeito que deve existir à máxima fonte de sabedoria de qualquer sociedade. Ademais, a mídia, em conjunto às Organizações Não Governamentais, deve alertar, por meio de propagandas e da teledramaturgia, a violência persistente aos idosos, visando equilibrar as relações interpessoais, subverter, aos poucos, os enraizados estigmas sociais de dependência e corroborar o papel educativo da escola na construção de mentes críticas. Por fim, o Governo Federal, mediante Ministério do Trabalho, deve, com incentivo monetário e isenção fiscal às empresas, aumentar as vagas de emprego, a fim de balancear o sistema previdenciário. Só assim, parafraseando Millôr Fernandes, a sociedade teria talento para envelhecer.