Título da redação:

Parados no tempo

Proposta: O acesso à produção cultural em questão no Brasil

Redação enviada em 30/07/2017

Desde a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, foram construídos bibliotecas, teatros e centros artísticos que ficaram restritos ao Sudeste e, mais especificamente, às classes mais abastados e intelectualizadas. Nesse contexto, é possível perceber que embora haja uma grande distância temporal aos dias atuais, a realidade do acesso à produção cultural continua desigual. Logo, é preciso analisar os fatores que causaram esse cenário a fim de que se possa estabelecer uma nova cosmovisão. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a omissão do governo em democratizar o acesso à cultura para todas regiões e classes sociais é um dos responsáveis para enorme disparidade sociocultural dentro do país. Visto que a maioria das programações artísticas são caras de difícil acesso para a massa populacional, a presença das classes C, D e E nos encontros culturais se torna cada vez mais escassa. Isso pode ser exemplificado pelos dados da UNESCO, o qual diz que mais de 70% dos brasileiros nunca assistiram a um espetáculo de dança, e que a grande parte dos municípios não tem bibliotecas, sendo apenas dois desses localizados na região Sudeste. Dessa forma, percebe-se uma clara contradição ao pensamento do filósofo contratualista Thomas Hobbes, o qual diz que o Estado tem que garantir o bem geral da população, realçando a negligência dos órgãos públicos em cumprir suas funções. Concomitante à isso, tem-se a barreira intelectual que, muitas vezes, impede o indivíduo de frequentar teatro, cinema e shows. Essa defasagem advém do conceito do sociólogo Paulo Freire, de educação tecnicista, aplicado na maioria das escolas, o qual diz que o ensino da área de Exatas é mais valorizado do que a formação sociocultural, gerando indivíduos com pouca sensibilidade catártica para ler um livro ou ir a um museu. Assim sendo, não é raro ver pessoas de frente para uma obra consagrada sem entender sua mensagem ao ler algo sem ter o olhar crítico necessário. À vista disso, perpetuam-se mecanismo de exclusão de grupos com menor poder intelectivo da classe de maior prestígio, elitizando a cultura. Torna-se evidente, portanto, que o acesso à produção cultural nas terras tupiniquins é muito desigual e precisa de medidas para esse cenário seja alterado. Para isso, cade ao Estado baratear o preço dos shows, teatro e livros por meio da isenção de impostos sobre esses itens e aproximar esses eventos da periferia, concedendo subsídio aos autores das obras levadas a esses lugares, a fim de que o produto final seja mais acessível à sociedade. Ao mesmo tempo, os núcleos de ensino devem estimular a educação cidadã, oferecendo aulas de artes, teatro e cinema, ao passo em que incentiva a leitura e promove passeios extracurriculares para instituições culturais com o intuito de que os jovens se identifiquem com esses ambientes desde cedo. Assim, poderemos, efetivamente avançar nesse aspecto após mais de duzentos anos praticamente estáticos culturalmente desde a época de Dom João VI no Brasil.