Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas “Memórias Póstumas” que não teve filhos para não transmitir a nenhuma criatura o legado da miséria humana. Talvez hoje percebesse acertada sua decisão: a postura de descaso das pessoas em relação à grande desigualdade social existente no Brasil é uma das faces mais perversas de uma sociedade que se despe de valores morais e sociais que destoam do pensamento coletivo em prol de necessidades e interesses individuais. Reverter esse quadro – eis o grande desafio do Brasil, que taxa todos igualmente e tem uma educação básica ruim, para que a nação se torne mais justa e seus cidadãos tenham iguais oportunidades em suas vidas. Em uma primeira análise é importante destacar a influência do individualismo e capitalismo na desigualdade social brasileira. Segundo o sociólogo Karl Marx, uma sociedade capitalista já é dotada naturalmente de um pensamento individualista que não condiz com o convívio em comunidade. Esse sistema econômico, baseado no lucro, potencializa o caráter egoísta dos cidadãos e ocasiona relações interpessoais amorfas e pouco afetivas. Ora, a maioria das pessoas ignora mendigos e pessoas pobres que vagam pelas ruas das cidades sem nenhum amparo. Razão tinha Zygmunt Bauman ao afirmar o perfil da sociedade contemporânea: superficial e desfacelado. Portanto, um dos caminhos para que a desigualdade social no Brasil seja diminuída é a mudança de pensamento da população e dos futuros cidadãos que estão nas escolas. Além da falta de pensamento coletivo presente na sociedade brasileira, é necessário discutir a questão econômica dessa problemática social. De acordo com o Datafolha, cerca 50% das famílias brasileiras têm renda inferior a mil e trezentos reais. Essa grande faixa da população brasileira paga, ao fazer compras em lojas e supermercados, o mesmo valor de tributo, quando considerado o mesmo produto, que as pessoas mais ricas. Ou seja, o pouco dinheiro mensal das famílias pobres brasileiras, ao invés de estar sendo investido em estudo, desenvolvimento profissional e pessoal, é direcionado à União e, em muitos casos, são desviados e roubados da população por políticos corruptos que não pensam nas pessoas que deveriam ajudar. Enfim, a desigualdade social no Brasil deve ser combatida com o objetivo da mudança de pensamento da população e com a contribuição de impostos proporcional à situação social de classe. Para isso, a escola, como responsável pela formação dos futuros seres pensantes do Brasil, deve, com a ajuda de professores e psicopedagogos, fomentar palestras e gincanas que estimulem o coletivismo e a reflexão sobre o respeito e cuidado ao outro. Ademais, os pais devem ser convidados a participarem dessas atividades como forma de integrar toda a família na propagação de ideais de convivência em sociedade. Outrossim, cabe ao Ministério da Fazendo criar um programa de restituição parcial de impostos, no qual famílias, comprovadamente mais pobres pela renda, teriam o retorno de parte de seu dinheiro utilizado para compra de itens básicos de sobrevivência. Dessa forma, o Brasil poderá sonhar com um futuro mais igual do qual Brás Cubas pudesse se orgulhar.