De acordo com pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), 1179 linchamentos ocorreram no país entre 1980 e 2006. Eles expressam o desejo coletivo de punição rápida e rigorosa. Além disso, representam uma tentativa de eliminar o papel do Estado. O Brasil tem uma herança escravocrata que não foi abolida em 1888: a cultura do tronco. Todavia, hoje, mais do que a cor da pele, a vontade de vingança imediata é o principal fator motivador das ações de crueldade das multidões. Por isso, mesmo a criança acusada de pequenos furtos poderá ser espancada até a morte. Esse revide do povo, acima de tudo, nega a integridade da pessoa, pois viola e humilha seu corpo. Vale ressaltar também a descrença de parte da sociedade nas instituições do Judiciário, Legislativo e Executivo. Por conseguinte, o ato de linchar toma a forma de justiça guiada por emoções e ignorâncias. Segundo Hermann Broch, “o mundo nunca foi redimido pelo ódio”. Da mesma forma, soluções brutais - socos, pontapés e apedrejamentos – não são capazes de resgatar o respeito e a dignidade humana. Face ao exposto, entende-se que o linchamento resulta da ânsia de vingança urgente aliada ao sentimento de insatisfação com a justiça praticada pelo Estado. Nesse sentido, é necessário o estudo profundo e a expansão do debate sobre o tema, a fim de formar cidadãos com capacidade distinção moral entre o certo e errado, o justo e o injusto. Outra medida seria legitimar as ações das policias, como investigar, deter e processar os participantes dessas barbáries. Por fim, repudiar o comportamento violento do linchador é avançar nos direitos humanos.