Segundo a cosmovisão grega - quer seja na perspectiva platônica ou na interpretação de Hesíodo -, a natureza não só era o paradigma irrefutável de estética, como a matéria-prima de existência dos própios deuses. Gaia, divindade oriunda da terra, era a própria materialização da ideia de maternidade. Contudo, a pós-modernidade parece não ter herdado dessa tradição o real valor do espaço natural - pelo contrário, a convivência do homem com o meio mostra-se dramaticamente problemática, e o desastre ambiental ocorrido em Mariana , no qual destruiu boa parte do Bioma e da região afetada pela lama, torna-se somente um exemplo dessa relação antropogênica. Em uma primeira análise, a tragédia ocorrida em Mariana foi gerada pela irresponsabilidade operacional da empresa Samarco. Essa correlação encontra fundamento na atividade de alto lucro gerado com a prática da mineração, fazendo com que essa não se importasse com os danos ambientais e sociais que poderia causar. Nesse sentindo, em um estudo publicado pela revista Le Monde Diplomatique, a geógrafa Laura Maciel - coordenadora do departamento de impactos ambientais da PUC/MG - aponta que 100% da população que vivia em torno da barragem, foi altamente impactada pelo desastre ocorrido devido a utilização de técnicas e materiais de baixíssima qualidade. Dessa forma, o produto desse desastre se materializa no aumento drástico do número de mortes e do desequilíbrio ambiental da região. Ademais, em uma segunda análise, a queda da barragem encontra fundamento na ineficácia da fiscalização aplicada pelo Ibama. A raiz dessa evidência técnica alicerça-se na percepção de que, com a falta de auditoria, gera-se acentuada economia nos custos que a empresa teria em construir e manter as barragens. Nessa perspectiva, a geógrafa Laura Maciel, ainda, afirma que, no processo de investigação da causa do desastre, a empresa Samarco, em laudo da defesa civil, aponta que foram encontradas rachaduras e inviabilidade da textura da lama. Desse modo, a destruição do bioma e da região do rio Doce é apenas uma metonímia de uma crise ambiental e moral do Brasil. Dessa forma, o poder legislativo federal deve aprovar repasses ás secretarias e ministérios do meio ambiente, a fim de que se implementem núcleos de fiscalização a desastres ambientais, por meio de auditorias e reuniões para que se tomem medidas imediatas a respeito desses impactos ambientais. Internamente, esses órgãos devem buscar, ainda, a modernização logístico-operacional e a capacitação de quadros técnicos. Ações publicitárias- em mídias como televisão, rádios e internet -, em paralelo, devem buscar a conscientização e a compreensão acerca da complexidade do fato sobre o desastre ocorrido em Mariana. Assim, o alcance e a eficiência dessas ações serão relevantes conquistas sociopolíticas, de modo que se redesenhe um futuro de respeito e justiça.