Título da redação:

NÃO FOI TRAGÉDIA

Proposta: Impactos: as virtudes do desastre de Mariana

Redação enviada em 13/04/2016

NÃO FOI TRAGÉDIA Mariana, primeira capital do estado de Minas Gerais, considerada como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN por sua arquitetura colonial datada de quase 400 anos, hoje, é tomada por lama e chumbo decorrentes do rompimento na barragem da SAMARCO, empresa que, junto à australiana BHB Billiton, extrai minério de ferro do subterrâneo mineiro. As causas – até então – podem ser provenientes desde sismos (pequenos tremores de terra) na região, à negligência por parte do corpo fiscal. Especialistas nomeiam o ocorrido como desastre, pois há intervenção humana, diferentemente de uma tragédia, contida às causas naturais. Atualmente, o principal argumento defensivo para a Vale S.A, estatal e acionista da SAMARCO, são os sismos na crosta terrestre que, mesmo imperceptíveis à população residente, alternam entre 2.2 e 2.3 na escala Richter, que registra de 1 a 9. Todavia, esses pequenos abalos não têm grandes poderes destrutivos para uma barragem em boas condições, o que uma evidencia uma possível negligência por parte do corpo de engenharia que era pago para avaliar, entre outras características, a capacidade de água contida na barragem, que poderia estar acima do nível seguro, no momento do rompimento. Outro possível fator que interveio para o acidente, são as infiltrações. Por serem feitas de solo compactado, rejeitos solidificados e blocos de rochas, as barragens são sujeitas – a todo tempo – à umidade, dado o contato direto com a água da bacia e o peso exercido pela mesma nas paredes. Embora os dejetos minerais repousassem no fundo do açude e a água não representasse um perigo evidente ao ser humano (sendo inclusive reutilizada no processo de extração), a movimentação causada pelo rompimento elevou esses resquícios à superfície, tornando-a extremamente tóxica àqueles que viessem a ter contato. A cidade de Mariana, hoje sofre com a perda de sua identidade e tenta reconstruir, com as indenizações das empresas responsáveis direta ou indiretamente pelo acidente, a vida e a dignidade. Capelas coloniais, obras sacras e principalmente a cultura dos antepassados foram submersos pelo mar de lama e, obviamente, o dinheiro não apagará da memória um desastre de tamanha dimensão, pelas mãos de uma estatal. Enquanto o poder público não intervir diretamente na fiscalização das mais de 700 barragens de rejeitos no solo brasileiro, a população próxima estará sujeita a acidentes como esse, os quais dizimam dezenas de vidas em questão de minutos.