Título da redação:

Anemia ferropriva

Tema de redação: Impactos: as virtudes do desastre de Mariana

Redação enviada em 01/06/2016

Em 2001 e 2003 romperam barragens, respectivamente em Belo Horizonte e Minas Gerais. Até hoje, as mineradoras responsáveis lutam para abrandar o valor de indenizações e multas junto ao Tribunal de Justiça. O desastre com a barragem de Fundão, considerado o maior acidente mundial na área, trouxe à tona a necessidade de levantar questionamentos sobre como os crimes ambientais são punidos no Brasil. A anemia ferropriva é causada pela deficiência de ferro no organismo. O Brasil, há tempos, apresenta essa enfermidade: a exploração do minério de ferro é tão importante para a economia do país que, apesar de sua extração ocorrer de maneira exaustiva, não é suficiente para manter a saúde administrativa da nação. A fim de combater os efeitos dessa patologia – fraqueza muscular e desoxigenação da máquina econômica -, a Política Nacional de Segurança de Barragens, ainda não totalmente regulamentada, viabiliza brechas para que haja negligência por parte dos órgãos fiscalizadores. A fragilidade legal brasileira é a responsável pela catástrofe em Mariana, que fez com que 60 milhões de m³ de resíduos tóxicos e lama transformassem completamente o distrito de Bento Rodrigues. O rompimento da barragem da mineradora Samarco deixou muitas sequelas: mortes, pessoas desalojadas, destruição de áreas agrícolas e de preservação da Mata Atlântica, assoreamento do Rio Doce, sendo impossível estimar um retorno da fauna e da flora à normalidade. Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, 2012 data como a última vez que a barragem foi vistoriada, apesar de ter passado por obras significativas posteriormente. A leviandade com a qual o Brasil manuseia as questões ambientais evidencia o paradoxo que o país vive: depende excessivamente da mineração, porém não desenvolve políticas de combate aos riscos ambientais que a prática tem. O ocorrido na barragem de Fundão reascendeu a discussão sobre o Novo Código de Mineração, projeto que prioriza o âmbito econômico da exploração mineral em detrimento de garantias ambientais básicas, objetivando, inclusive, liberar partes das áreas de Unidades de Conservação para a atividade. Após o desastre, 28 emendas foram propostas para modificar o projeto inicial, e o que fica é a necessidade de que catástrofes como a de Mariana aconteçam para que a opinião pública pressione e o Congresso ceda. O desafio é crescer sustentavelmente, com ganhos econômicos efetivos, mas também preservando o meio ambiente e a segurança da população. O rompimento de Fundão teve muito a ensinar sobre o tema, porém à custa de vidas perdidas e danos ambientais incalculáveis. É importante que o governo exija da Samarco indenizações para as famílias atingidas, investimentos na reconstrução de casas e na recuperação do Rio Doce e do distrito de Bento Rodrigues. O papel das ONGs ambientalistas é fundamental nesse cenário para conscientizar a população sobre a importância de cobrar resoluções de políticas que impossibilitem a exploração da riqueza natural brasileira de forma predatória, e o valor de colocar no poder governantes que se preocupem com isso, a fim de evitar que novos desastres como esse ocorram.