Título da redação:

Amarras conservadoras.

Tema de redação: "Escola Sem Partido" e os rumos da educação no Brasil

Redação enviada em 30/06/2017

Na alegoria do Mito da Caverna, criada pelo filósofo grego Platão, o homem que tem a visão apenas do mundo sensível desconhece a verdade do mundo das ideias e, por isso, é alienado. O projeto Escola sem Partido pretende manter o aluno preso à caverna, visando eliminar a discussão ideológica no ambiente escolar. Essa ideia, porém, vai contra à Constituição e atende interesses conservadores. Com a cultura de que a escola deve dar toda a educação para o aluno, tem-se a ideia de que esse é uma “tábula rasa” e o professor possui o poder de escrever seus ideais nela. Contudo, quando o estudante chega à escola, ele tem uma história, com aprendizados, religião e cultura, sendo o papel da instituição promover a reflexão, a dúvida e o interesse em saber mais. Para isso, a exposição de opiniões diferentes é de extrema importância para esse objetivo. Além de contrariar o princípio constitucional do pluralismo de ideias, o projeto prevê a desvinculação entre o conhecimento científico e o ideológico. Isso ignora a concepção de que todo saber é elaborado por meio de perspectivas sócio-histórico-político-culturais e de que, impreterivelmente, o discurso de qualquer professor apresenta o seu viés ideológico. Dessa forma, não há uma neutralidade na passagem de informação como, por exemplo, em uma aula sobre escravidão ou sobre condições trabalhistas no início da Revolução Industrial. Nota-se, sobretudo, que o projeto não apresenta ideias para melhorar a educação brasileira, mas sim uma forma de manter discursos conservadores, acabando com debates e restringindo noções “liberais”. Com a concepção de patrimonialismo do sociólogo Raymundo Faoro, observa-se que a elite obteve o poder público e econômico para garantir seus interesses e, para a manutenção deles, a alienação e a valorização de pensamentos preconceituosos é imprescindível. Assim, a característica desse programa de proibir a discussão sobre gêneros na escola mostra a repugnância ao diferente, pretendendo manter percepções retrógradas da sociedade e, consequentemente, o controle sobre ela. Portanto, além de ser um projeto inconstitucional, a Escola sem Partido visa enquadrar discursos e acabar com o pluralismo de ideias por meio da censura do professor. É necessária a rejeição da proposta pela Câmara dos Deputados e pelo Senado para garantir os direitos dos estudantes e dos profissionais. Além disso, o Ministério da Educação deve propor uma reforma no currículo escolar ao promover aulas de debate, principalmente sobre assuntos que os afetam diretamente como, por exemplo, a discussão sobre gêneros. Somente dessa forma, a liberdade de expressão será mantida e o aluno poderá optar, a partir de várias opiniões (inclusive a do professor), aquela que vai de acordo com seus princípios.