O que hoje se chama de educação domiciliar teve seu o ressurgimento na década de 70, nos Estados Unidos, e se baseou num movimento de reforma da educação, proposto pelo professor e escritor norte americano John Holt. No Brasil, o ensino domiciliar, de acordo com dados divulgados pela ANED, cresce mais de 50 % ao ano e cerca de doze mil crianças e adolescentes deixam de ir à escola para estudar em casa. Contudo, a escolha do modelo educacional é preocupante, pois a falta de mecanismos de controle e de convívio social são fatores que podem prejudicar o desenvolvimento social, intelectual e cultural dessas crianças. Em primeiro plano, é válido ressaltar que a Constituição Federal responsabiliza o Estado e a família, de forma conjunta com a sociedade, pela promoção e incentivo à educação. Nessa perspectiva, a adoção do homeschooling, além de carecer de amparo legal, traria rumos incertos à educação no país, visto que, nessa modalidade, torna-se difícil acompanhar e avaliar se a grade curricular básica e o preparo dos responsáveis são adequados para atender as necessidades dos estudantes. Além do mais, a forma de viabilização da proposta e demanda do Estado são problemas a serem analisados, visto que a formação de uma estrutura de fiscalização, necessária para evitar casos de abusos, como trabalho infantil ou abandono, seria um ônus para o Estado. Igualmente, o processo de socialização é uma das grandes preocupações. Nesse sentido, a criança educada em casa é privada do contato com outras crianças e de atividades colaborativas. Desse modo, o diálogo e o trabalho em equipe ficam restritos a grupos que possuem formas semelhantes de pensamento e determinadas ideologias. Segundo Paulo Freire, a educação é compreendida como um instrumento a serviço da democratização, que se desenvolve pelas vivências comunitárias dos grupos sociais, no diálogo, para formar pessoas participantes. Assim, o cerne da educação, de forma diferente da domiciliar, consiste em desenvolver as potencialidades do indivíduo mediante a participação de todos e a troca de experiências culturais com diferentes tipos de pensamento, diante da presença orientadora do professor. Fica claro, portanto, que o homeschooling não é uma opção viável à melhora da educação no país. Sendo assim, faz-se necessário que o MEC conscientize as famílias e a sociedade, por meio de campanhas midiáticas e palestras com profissionais da educação, sobre a necessidade da escolarização no processo de formação de crianças e adolescentes, com o intuito de construir sujeitos aptos para agir de forma consciente e reflexiva - lendo o mundo e transformando-o -, bem como acreditava Paulo Freire.