A série britânica, Black Mirror, traz no episódio “’Engenharia Reversa” a história de soldados induzidos, através de chips, a enxergar os inimigos como monstros, o que justificaria o uso da violência abusiva para contê-los. Fora da ficção, a falta de humanização dos responsáveis pela segurança da população, fomenta a discussão sobre a desmilitarização da polícia no Brasil, visto que o atual modo de operação não promove a paz. É importante pontuar, de início, que o papel da polícia militar (PM) está direcionado para atuação em situações de guerra e conflito. É notável que desde sua concepção, a filosofia de guerra influencia a formação desses profissionais, assim como a gestão da segurança no Brasil. O golpe militar, de 1964, tem relação direta com esse contexto, pois intensificou a cultura da repressão com seus atos institucionais, torturas e perseguições. Assim, mais de 50 anos depois, ainda é possível perceber no treinamento militar, alheio ás necessidades da sociedade atual, a desumanização do policial e “criação de máquinas de guerra”. Diante disso, é preciso orientar a polícia para a defesa da sociedade, não do Estado. Para tanto, mais do que transformar a PM numa instituição civil, é preciso desenvolver uma nova forma de pensar segurança no Brasil. Como disse Nelson Mandela, “devemos promover a coragem onde há medo, acordo onde existe conflito e inspirar esperança onde há desespero”. Em um país onde a desigualdade social nutre a criminalidade, são necessários policiais humanizados para que não se repita episódios trágicos, como a massacre do Carandiru, em 1992. Entende-se, portanto, que a desmilitarização da PM é necessária para contribuir com a dissociação da polícia com a postura repressiva que não atente as demandas em segurança da sociedade e muitas vezes torna-se seu algoz. Faz-se necessário a união entre PM e policia civil para, em conjunto, trabalhar à favor da população, além de adequar a formação desses policiais, capacitando-os a enxergar os determinantes da violência no Brasil.