Apesar da lealdade do cachorro, Rubião, personagem de Machado de Assis, valorizava muito o dinheiro enquanto distribuía, sem constrangimento, pontapés para o animal deixado pelo amigo falecido. Assim como na obra literária, o cenário brasileiro revela que a violência contra os animais tem adquirido uma natureza explícita pouco rechaçada. Nesse contexto, deve-se avaliar a influência da cultura e da tecnologia para solucionar a problemática em questão. A princípio, convém destacar que o assunto mencionado é consolidado por uma visão de mundo apoiada em costumes. De acordo com a antropóloga Ruth Benedict, a cultura é como uma lente através da qual o Homem vê o mundo. Sendo assim, a exibição dos maus-tratos aos animais, disfarçada sob o pretexto do lazer, em eventos festivos pelo país impede que o abuso seja repudiado. Prova disso é que, após a decisão do Supremo Tribunal Federal de tornar ilegal a vaquejada, pessoas ficaram incomodadas com o impacto econômico da decisão. Atrelada a essa questão pilar, é notório que o crime encontra suporte nas ferramentas de informação. Isso corre porque, graças à espetacularização incentivada nas redes sociais, a exposição de brigas entre animais é usada como entretenimento. Nesse panorama, a ausência de leis que punam aquele que filma e compartilha pode ser entendida como uma brecha permitida pelo Estado. Em vista disso, o problema passa a ser normatizado pela falta de uma força coercitiva que, para o sociólogo Émile Durkheim, é essencial para a mudança de comportamentos na coletividade. Diante dos argumentos supracitados, faz-se necessário que o poder público busque, em parceria com a mídia, conscientizar a população sobre os danos físicos e psicológicos de certas práticas culturais sobre o animal, exibindo, em documentários e reportagens, os traumas sofridos pelo bicho com o fito de fazer a sociedade enxergar a violência disfarçada. Outrossim, é imprescindível que, mediante o Legislativo, o Governo Federal procure aprovar uma lei que venha punir com multas aquele que promove os maus-tratos em vídeos na internet. Assim, será possível garantir para os animais uma experiência diferente daquela de Quincas Borba.