Com a urbanização do Brasil, a qual ocorreu de forma anômala, percebe-se, na sociedade, consequências que perduram até os dias de hoje. O elevado êxodo rural e migração para, sobretudo, grandes cidades, fizeram com que crescesse a criminalidade e o desemprego, haja visto que as metrópoles não estavam calçadas para tamanha demanda populacional. Consonante a isso, aumentou, também, a população que reside nas ruas, fato este que predomina cada vez mais nas paisagens dos centros urbanos. Com isso, vê-se a necessidade de debater e buscar soluções para a problemática. No livro “o futuro da humanidade”, do escritor e psiquiatra Augusto Cury, o autor apresenta como personagem um morador de rua, o qual, antes de ir morar nas praças, possuía família, profissão e prestígio. Entretanto, ao desenvolver doença psíquica e perder tudo, encontrou nas ruas um novo lar. Analogamente, no atual contexto brasileiro, segundo aponta pesquisa realizada pela revista Isto é, vários são os motivos que levam um cidadão à vida nômade, como, além dos problemas enfrentados pelo personagem, as drogas e o desemprego. A partir disso, percebe-se que a complexidade da problemática inicia-se já nas causas do empecilho e, ainda, devido à variedade de mendicantes, há, enraizado na população, um preconceito que vê, nesses indivíduos, perigo e ameaça, fortalecendo a discriminação, a qual torna esse grupo ora invisível, ora um problema. Destarte, a implantação de medidas efetivas que visam melhorar a vida desse grupo esbarra na falta de percepção de sua quantidade e na desinformação de que a grande maioria de moradores de rua - cerca de 70% - possui trabalho remunerado, mesmo que informalmente, conforme aponta o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Assim, caracteriza-se a ideia errônea de que essa parte da população pratica um “desserviço” social, não contribuindo para a sociedade de modo geral. Ademais, cabe salientar que o direito à moradia é garantido constitucionalmente e, enquanto isso não se efetiva, nem mesmo os albergues e casas de passagem encontram-se capacitados para receber esse contingente, afinal, conforme aponta a própria Assistência Social, a maioria de moradores de rua buscam esses locais, no entanto, esbarram na falta de camas e, assim, não possuem um local para pernoitar senão as ruas. Nesse sentido, vê-se a necessidade de o Governo Federal efetivar medidas que promovam qualidade de vida aos moradores de rua, visto que este é o primeiro passo para integrá-los a sociedade. Para isso, a Política Nacional para a População em Situação de Rua deve ser priorizada, mas, além das medidas atuais de auxílio emprego e moradia, deve-se incluir propagandas televisivas que mostrem a importância desse grupo para a sociedade, bem como desmistifique a generalização de que todo cidadão da rua é delinquente. Outrossim, o Ministério do Desenvolvimento deve garantir a manutenção dos albergues e casas de passagem, com alimentos e camas suficientes.