França, 1815. O prisioneiro Jean Valjean sai, após 19 anos, da prisão na qual entrou por ter furtado um pão quando estava faminto, e passa a vida a ser perseguido pelo inspetor Javert, que o trata como perigoso ladrão. Apesar de fictício e extremo, o exemplo da clássica obra francesa “Os Miseráveis” muito se assemelha à realidade brasileira, em que, juntos, a má gestão dos presídios e o preconceito na sociedade tornam a ressocialização dos condenados muito dificultosa. Nessa perspectiva, o estigma do “preso que sempre volta a cometer crimes”, embora claramente errôneo, é crescentemente perceptível. Isso atrapalha sobremaneira o processo de retorno à sociedade, porque os que voltam passam a ser rejeitados no mercado de trabalho, excluídos das relações sociais e frequentemente humilhados por aqueles que só presumem a reincidência. Percebe-se, também, que o preconceito racial acaba sendo fator agravante nesse processo discriminatório, pois, dos mais de 726 mil presos no Brasil, 64% são negros, segundo dados do Ministério da Justiça. Ademais, embora tenha a terceira maior população carcerária mundial, e, por conseguinte, necessitar de boa administração nas cadeias, o governo brasileiro não só enfrenta nelas a superlotação e o consequente prejuízo à dignidade humana, mas também erra ao escassear subsídios para implantação de cursos de capacitação laboral e desenvolvimento humano, que formariam pessoas preparadas para posteriores empregos e para o convívio social. No Complexo de Canhanduba, em Itajaí, Santa Catarina, a adoção dessa iniciativa ajudou a aumentar significativamente o nível de abandono da criminalidade no município. Dessa maneira, no Brasil, para promover a inclusão social de ex-detentos, é crucial que o Governo Federal e empresas privadas invistam no estabelecimento de cursos de melhoria pessoal e profissional dentro dos presídios, bem como em posterior contratação de indivíduos para essas empresas. Além disso, é importante que esses agentes promovam campanhas na TV e na Internet acerca da importância do respeito para com ex-reclusos. Nesse sentido, será o Brasil país que minimizará a violência e incentivará bom convívio entre toda a população.