Título da redação:

A redução do consumo de drogas lícitas pelos jovens: cultura e saúde

Tema de redação: Como enfrentar o aumento do consumo de drogas lícitas por adolescentes

Redação enviada em 20/01/2019

Nem sempre o álcool foi uma bebida legalizada em todo o mundo. Nos Estados Unidos da década de 1920, a chamada “Lei Seca” da época proibia a venda e o consumo da substância no país. Cabe ressaltar, com esse recorte histórico, que tanto os produtos lícitos quanto os ilícitos podem trazer as mesmas consequências negativas quando há um uso excessivo e precoce. No caso específico do consumo de substâncias lícitas por crianças e adolescentes, a situação pode ser ainda mais grave por se tratar de um grupo em fase de desenvolvimento biológico e de descobertas e incertezas no âmbito social. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a ingestão prematura de álcool é a principal causa da mortalidade entre jovens em idade ativa, o que leva à necessidade de se criar mecanismos de prevenção a esse uso. Com efeito, as mortes causadas pelo consumo exacerbado de bebidas alcoólicas superam os óbitos motivados por algumas doenças como a tuberculose, conforme expõe a Organização Mundial da Saúde (OMS). As informações acima comprovam que as abordagens entre propostas para combater as drogas ilícitas e as legalizadas não recebem o mesmo tratamento por parte do governo e formação de opinião pela sociedade. Nesse sentido, há uma importante dimensão cultural a ser ressaltada: geralmente, o uso de substâncias lícitas pelos jovens menores de idade não gera uma estranheza no meio social, dada a naturalização que esse tipo de prática assume diante do próprio estímulo cultuado pela mídia, seja por meio de propagandas de cerveja ou pela facilidade de acesso à compra de bebidas nos supermercados. A aparente sensação de bem-estar produzida pelos meios de comunicação com relação ao uso de drogas lícitas impacta sobre as identidades que crianças e adolescentes usam como referência para si próprios. Assim, é possível dizer que esse processo atua na formação social do indivíduo, definido pelo filósofo francês Jean Paul Sartre como o ser influenciado pelo modo como se vive, em que a sua liberdade é paradoxalmente um elemento aprisionador na medida em que o ser humano é livre, mas responsável pelas suas escolhas. Para que haja um progresso na redução do consumo de drogas lícitas pelos jovens, portanto, é preciso que esse uso massivo e precoce seja tratado na sua relação causa e efeito, para além da dimensão cultural, mas também como uma questão de saúde e não somente de caráter punitivo, como se observa nas políticas nacionais sobre o álcool e o tabaco, as quais a problemática é abordada pontualmente e sob a perspectiva da proibição da venda desse insumo a crianças e adolescentes. Desse modo, ações conjuntas entre o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde se fazem urgentes por meio da implementação de rodas de conversa sobre o assunto nas instituições de ensino, bem como da divulgação ampla por profissionais da saúde, em grupos de acolhimento em hospitais, para debater sobre os efeitos degradantes desse consumo prematuro e a longo prazo.